«Este é o meu Filho muito amado. Escutai-o.»

Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e levou-os, só a eles, a um monte elevado. E transfigurou-se diante deles. As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que lavadeira alguma da terra as poderia branquear assim. Apareceu-lhes Elias, juntamente com Moisés, e ambos falavam com Ele. Tomando a palavra, Pedro disse a Jesus: «Mestre, bom é estarmos aqui; façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias.» Não sabia que dizer, pois estavam assombrados. Formou-se, então, uma nuvem que os cobriu com a sua sombra, e da nuvem fez-se ouvir uma voz: «Este é o meu Filho muito amado. Escutai-o.» De repente, olhando em redor, já não viram ninguém, a não ser só Jesus, com eles. Ao descerem do monte, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que tinham visto, senão depois de o Filho do Homem ter ressuscitado dos mortos. Eles guardaram a recomendação, discutindo uns com os outros o que seria ressuscitar de entre os mortos.”
Mc.9, 2-10

A Quaresma é um período especial de preparação para celebrar a Páscoa, em que procuramos de um modo mais intenso rever a nossa vida à luz do trajecto de Jesus no seu caminho para a entrega para cada um de nós, e com Ele identificar e mudar os aspectos na nossa vida que necessitam de conversão. A Quaresma tem de ser vivida como um tempo em que tendo por garantia o amor de Deus – que se tornou mais palpável em Jesus e na Sua paixão e ressurreição – nos deixamos tocar por esse amor para vivermos e ajudarmos outros a viver felizes – ou seja, como filhos de Deus.
Neste enquadramento, qual será a principal mensagem do evangelho? A parte mais forte é quando Deus diz “Este é o meu Filho muito amado. Escutai-o”. Vejo que o Senhor nos está a desafiar a escutá-Lo, estando conscientes de que Ele está presente na nossa vida e a pode enriquecer de forma decisiva. As “vestes resplandecentes” de Jesus que o evangelho refere são o sinal da sua divindade; por outro lado, a “nuvem” em toda a Bíblia é sempre sinal da manifestação de Deus. Assim, o desafio é: como escuto Jesus? Escuto-o, dialogo com Ele consciente de que Ele é Deus, que viveu a mesma realidade que eu, e que está totalmente empenhado em que cada pessoa seja feliz? Deixo-me envolver, cativar por Ele, como a nuvem envolveu os discípulos? Sem consciência de quem fala comigo não posso dar-lhe a força que pode ter na minha vida!
O modo como pode ser esta escuta podemos também aprender de Abraão, no relato do sacrifício do seu filho Isaac (Gen.22): Abraão sente um apelo de Deus, mas enquanto se prepara para o concretizar vai-se questionando até perceber (à última hora!) qual é a verdadeira vontade de Deus, acabando por iniciar a transformação de uma cultura que até àquela altura tinha tradição de sacrificar o filho primogénito. Como escuto e estou atento à voz do Senhor, tanto em momentos de oração mais dedicados, como nos trabalhos, tarefas e relações quotidianas? Quantas vezes as minhas atitudes, acções e opções são mudadas por escutar a Sua voz?
Por fim, noto também que Pedro gostou da experiência que teve com Jesus… se não fosse isso, não fazia a proposta da tenda! Também vejo aqui um apelo a que façamos a nossa oração com gosto, que desfrutemos de estar com Jesus, com o Pai, dialogando com Ele sobre os Seus projectos para a nossa vida e para a humanidade. E o que o façamos não apenas num retiro, mas com frequência. Sabendo que em Deus “vivemos, nos movemos e existimos” (Act.17,24) e que um dos contributos que temos a dar ao nosso tempo é aprender a viver “online” com o Senhor, não vivendo como se Ele não existisse, mas sim deixando que Ele nos ajude a concretizar nas nossas vidas o Seu mesmo modo de amar e agir.

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