«Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor.»

Alguns que tinham descido da Judeia ensinavam aos irmãos: «Se não vos circuncidardes, de harmonia com o uso herdado de Moisés, não podereis ser salvos.» Depois de muita confusão e de uma controvérsia bastante viva de Paulo e Barnabé contra eles, foi resolvido que Paulo, Barnabé e mais alguns outros subissem a Jerusalém para consultarem, sobre esta questão, os Apóstolos e os Anciãos. Então, depois de despedidos pela igreja, atravessaram a Fenícia e a Samaria, relatando a conversão dos pagãos, o que causava imensa alegria a todos os irmãos. Chegados a Jerusalém, foram recebidos pela igreja, pelos Apóstolos e Anciãos e contaram tudo o que Deus fizera com eles. Levantaram-se alguns do partido dos fariseus, que tinham abraçado a fé, dizendo que era preciso circuncidar os pagãos e impor-lhes a observância da Lei de Moisés. Os Apóstolos e os Anciãos reuniram-se para examinarem a questão. At 15,1-6.

«Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor. Ele corta todo o ramo que não dá fruto em mim e poda o que dá fruto, para que dê mais fruto ainda. Vós já estais purificados pela palavra que vos tenho anunciado. Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer. Se alguém não permanece em mim, é lançado fora, como um ramo, e seca. Esses são apanhados e lançados ao fogo, e ardem. Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e assim vos acontecerá. Nisto se manifesta a glória do meu Pai: em que deis muito fruto e vos comporteis como meus discípulos.»
Jo 15,1-8.


O primeiro texto que nos é proposto hoje parece numa primeira leitura um pouco seca, desinteressante, com pouco para acrescentar à nossa vida. Os apóstolos debatem se os pagãos precisam de ser circuncidados para ser salvos, para serem verdadeiramente cristãos. Naquele tempo a discussão fazia sentido mas que hoje não tem eco em nós. Vemos portanto o texto como catequese histórica sem muita relação com a nossa vida. Contudo o texto, como muitos textos na Bíblia, pode ter uma segunda leitura, levar-nos a uma reflexão mais profunda e que ganha força quando lemos de seguida o Evangelho.

Esta nova leitura do texto que vos proponho é de ver estes momentos de “desentendimento” entre os apóstolos como um espelho de todos os momentos de desencontro que vamos vivendo nas nossas vidas. Quando temos duas pessoas vivendo as suas vidas lado a lado, seja na relação familiar, seja no trabalho temos sempre momentos que são vividos no desencontro. Ou porque não compreendo o outro, ou porque as coisa menos boas que levo, ou o outro leva, por dentro me faz ter uma acção ou pensamento desalinhado do outro. É aí que nasce a falta de amor dos desencontros. É no desencontro que por vezes nos podemos agredir, chatear, intristecer uns com os outros. Sentimos nesses momentos a verdadeira fragelidade do amor humano que não é capaz de acolher a diferença do outro. O amor de Deus é distinto porque nos acolhe a todos como filhos. É nesta leitura feita uma segunda vez que vemos as nossas vidas à Luz da vida de Jesus.

É Jesus que nos desafia no Evangelho a ser como Ele. É Ele que nos faz filhos de Seu Pai e nos enxerta  no tronco de Videira que é Ele. Esta ligação  a Jesus põe-nos de novo a par com uns com os outros.  Esta ligação a Jesus potencia-nos, lança-nos, alimenta-nos, para possamos dar frutos. O Fruto do entendimento, o fruto da compreensão, o fruto do acolhimento do outro. Em resumo o fruto do Amor. É assim que dos desencontros da primeira leitura, somos lançados para os encontros propostos no Evangelho.

Deus não nos quer pequenos, mesquinhos. Deus quer-nos grandes, amantes da vida, acolhedores dos outros. Fomos feitos para ser grandes, não nos percamos nas coisas pequenas da Vida.

– quais os desencontros que hoje vivo?

– que me chama Jesus a viver nesses desencontros?

– que preciso de mudar para conseguir acolher ao jeito de Deus?

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