“Dai a Deus o que é de Deus …”

“Então as autoridades mandaram alguns fariseus e alguns partidários de Herodes, para apanharem Jesus em alguma palavra. Quando chegaram, disseram a Jesus: «Mestre, sabemos que és verdadeiro, porque não dás preferência a ninguém. Com efeito, não levas em conta as aparências e ensinas de verdade o caminho de Deus. Diz-nos: É lícito ou não pagar o imposto a César? Devemos pagar ou não?» Jesus percebeu a hipocrisia deles e respondeu: «Porque Me tentais? Trazei-me uma moeda para Eu ver». Eles levaram-Lhe a moeda e Jesus perguntou: «De quem é a figura e a inscrição que está nesta moeda?» Eles responderam: «É de César». Então Jesus disse: «Pois dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus». E eles ficaram admirados com Jesus.”

Ao começar a rezar com esta leitura perguntava em primeiro lugar a Jesus – Por onde andei? Estive ocupado com a coisas de César ou com coisas de Deus? Penso que esta leitura nos pode ajudar a discernir melhor este equilíbrio entre o que é de Deus e o que é do mundo. No entanto eu resisto um pouco a esta dicotomia – agora estou nas coisas de Deus, ora estou nas coisas do mundo – não deveria ser assim – seria importante ter mais Deus nas coisas de César e mais César nas coisas de Deus.

 

Mas entende-se nesta leitura a inteligência de Jesus para dar um critério lógico e prático para esta questão. E é importante este critério pois muitas vezes eu sinto remorsos por estar a dar tanto tempo á vida profissional quando tenho outra vocação pessoal a que sou chamado. Vivo muitas vezes sentindo que estou a dar ao mundo (trabalho, televisão, sociedade, vida social, lazer, …) mais do que estou a dar a Deus (tempo de oração, evangelização/anuncio, atividades da igreja/comunidade).

Por outro lado, ainda misturamos muito aquilo que deveria ser diferente e respeitado por ser diferente. Jesus respeita que se cumpram as leis humanas, as leis da natureza, a vida em sociedade, que se paguem impostos, que se produza e se viva numa sociedade com  “regras” determinadas pela evolução, pelo conhecimento, pela investigação. E que não se pretenda “meter a foice em seara alheia”. E temos ao longo da história da Humanidade e provavelmente também na nossa história pessoal a experiência do sofrimento gerado por este problema. Ainda hoje nalguns ambientes Muçulmanos se vive este dilema. Mas de facto não é fácil encontrarmos um critério para entender o que é de César e o que é de Deus. Qual é o critério que nos pode ajudar?  Será uma intuição inscrita dentro de nós, na nossa consciência humana depois de formada? Penso que sim.

No entanto penso que não é apenas esta a perspetiva a que Deus me convida. O convite pode também ser a analisar como estou a dar a Deus o espaço para Ele ser Deus na minha vida; para ser garante da esperança; para ser razão de viver – sou porque sou amado por Deus, sou um Dom e Deus é a segurança de que no final tudo acabará bem. E como estou a “dar” ao mundo o papel que devo/posso/se desejaria que eu dê: contributo para construir um mundo melhor, criatividade para pensar “fora da caixa” contra as injustiças, etc.

Estou a dar o que o mundo me pede ou o que posso dar, o que o mundo precisa?

 

 

 

 

 

 

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