A chave está no amor.

“Coloquei-te como sentinela na casa de Israel”…todo aquele que é colocado como sentinela do povo, deve, pela sua vida, situar-se bem alto, para ser útil com a sua previdência… tantas vezes acabo por ficar com gosto onde antes me repugnava cair. Quem sou eu, portanto…? Mas o Criador e Redentor do género humano é assás poderoso para me conceder a mim, embora indigno, a altitude de vida e a eficácia da linguagem: é por amor que estou ao serviço da palavra…» 
S. Gregório Magno, papa, séc. VI, adaptado.
 
Hoje experimento que o Senhor me diz: “ Amas-me? Apascenta.” e “A minha vida ninguém ma tira, sou Eu que a dou livremente”…
“ Amas-me? Apascenta.” (Jo 21) 
Jesus lembrava-me que toda a Missão em casa do Pai é, apenas e só, uma questão de Amor, pois só quando se vive a entrega com amor (que muitas vezes não se associa a sentimentos de grande entusiasmo – quem é que se levanta às 3h da manhã quando o filho chora com entusiasmo?) a entrega é geradora de Vida Abundante (e isso respira-se, sente-se!) para as partes envolvidas.
“Livremente”
Como o filho mais velho, muitas vezes vivemos em casa do Pai de forma pouco livre, com o coração pouco recompensado… faz-me muitas vezes sofrer ver cristãos tão entregues até ao dia em que se cansam; tantas vezes porque vivem essa entrega sozinhos, tantas vezes porque há exigências desumanas (não divinas) que se impõem a si próprios, (textos sobre o stress do cristão)…
Temos que pedir imenso a Deus o dom de não ser funcionários dele mas de vivermos em Sua casa como Filhos amados!
 
Num artigo que alguns conhecemos “Homens e mulheres de dois tempos” há um excerto que me marca muito:
Jesus sai com frequência do caminho para orar a Deus. Saí conscientemente da acção, não quando a vida está vazia de acção, mas sim quanto mais cheia está. Por quê? para quê? Em primeiro lugar, porque « há uma espécie de demónios que só se expulsam com jejum e oração» como disse em determinada ocasião. Contra toda a evidência, damos facilmente por suposto que encontrar Deus na vida ( que viver bem em casa do Pai) está ao virar da esquina, facilmente o alcançamos tanto mais que já há tantos anos andamos nestas andanças. É mentira! À medida que vamos crescendo, a vida enche – se – nos de pequenos demónios – ambições, buscas pessoais, enganos, etc – que actuam como cortina de fumo umas vezes, e como barreira intransponível outras, diante de Deus»
Peçamos a graça, o dom enorme disto não nos acontecer, porque se sofre! E, se andarmos por estas bandas, peçamos a graça de um encontro com o Deus da misericórdia que dissipe aos poucos essa cortina de fumo. 
Há que dar tempo a Deus… Por isso estamos aqui, porque não se trata apenas de uma gestão de números e actos… porque a missão que somos convidados a viver é questão de amor!
“Amas-me?” 
Hoje, se nos dermos conta de um amor pequeno tenhamos a humildade de pedir… não nos forcemos a avançar de “barriga vazia” não podemos apascentar “forçados”… Ao Pai, podemos pedir tudo, dizer tudo.
“…Apascenta.”
Cada um terá as suas tentações ao procurar apascentar. Penso que as maiores tentações surgem quando nos decidimos a por as mãos na massa… enquanto é só teoria é mais fácil. Talvez não seja por acaso que as tentações de Jesus são narradas no início da sua vida pública.
Identificava algumas: tentação de fazer muitas coisas; de desistir e não fazer nada por ser difícil; de fazê-lo sozinhos e por nossa conta (confrontar com nº 19 das Constituições FMVD). Mas, num âmbito de fé, apascentar nunca deveria ser um acto por conta pp porque se trata de um convite, de um envio… 
Ao longo da história da humanidade, da história de cada indivíduo é necessário questionar Jesus sobre o que é isto de apascentar. Em cada momento, época, indivíduo a resposta terá matizes diferentes : doroteias, franciscanos…verbum dei…
Será importante como comunidade de animadores, de responsáveis por grupos de casais estarmos unidos na compreensão da missão que Deus nos confia hoje? Será importante que sejamos hoje dentro da comunidade de Lisboa, da Igreja, do mundo, NFVDei e não NF cristãos com outra “cor e forma”?
Para mim, só é importante se acreditarmos que o carisma Verbum Dei – juntamente com outros – é uma das respostas de Deus para o mundo actual. É uma “resposta chave”, é fruto do amor de Deus pela humanidade, é expressão do seu agir constante em função de nós.
Cabe a cada grupo cuidar do seu carisma, defende-lo… cabe aos olhos serem olhos, ás mãos desempenharem o papel de mãos e não se confundirem a ser pés…
Estando nesta comunidade e com toda a liberdade e amor, cabe-nos discernir se é aqui o nosso lugar e, uma vez aceite, cuidar com amor do carisma, da missão que nos é confiada.
 
Jesus, o Pai, ao convidar-me, fá-lo-á sempre tendo em conta o que sou, as minhas circunstâncias. Por vezes será necessário mudar algumas coisas – organização, horários, prioridades…- mas muitas vezes a mudança será muito mais de “mente e de coração” do que de factores externos. Nós, eu, mais facilmente pensamos que viveríamos melhor a missão se não tivéssemos o trabalho x, o patrão y….
Deus, quando nos chama têm em conta o que somos e as nossas circunstâncias e, quer-nos reconciliados com tudo o que não pode nem deve ser mudado…
A chave está no amor. 
Se há amor, perante as dificuldades, nasce a criatividade, a fidelidade, a humildade e encontram-se caminhos para viver os desejos profundos, as chamadas profundas, a vocação.
Antes do “apascenta” está o amor. Será ele que determinará os modos, os comos, o quanto… Antes do “apascenta” está o amor “ a Deus sobre todas as coisas” e o amor “ao próximo como a ti mesmo”.

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