A paz esteja convosco

“O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu Servo Jesus, a quem vós entregastes e perante a face de Pilatos negastes, quando este havia resolvido soltá-lo. Mas vós negastes o Santo e Justo, e pedistes que se vos desse um homicida; e matastes o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas. (…) Agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também as vossas autoridades. Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia anunciado que o seu Cristo havia de padecer. Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério, da presença do Senhor, (…)” 
Act 3, 13-15 . 17-19

“Meus filhos, escrevo-vos  para que não pequeis. Mas, se alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. Ele é a expiação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo. Eis como sabemos que o conhecemos: se guardamos os seus mandamentos. Aquele que diz conhecê-lo e não guarda os seus mandamentos é mentiroso e a verdade não está nele. Aquele, porém, que guarda a sua palavra, nele o amor de Deus é verdadeiramente perfeito.
1 Jo 2, 1-5

“Enquanto isto diziam, Jesus apresentou-se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!» Dominados pelo espanto e cheios de temor, julgavam ver um espírito. Disse-lhes, então: «Porque estais perturbados e porque surgem tais dúvidas nos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo. Tocai-me e olhai que um espírito não tem carne nem ossos, como verificais que Eu tenho.» Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés.” 
Lc 24, 36-40


Esta Palavra de Deus recorda-nos um fato histórico tremendo, ao mesmo tempo misterioso e doloroso: os judeus, povo que esperou o Messias, não acolheu o Messias! E tudo terminou num desastre, o Povo de Deus não foi capaz de reconhecer o Messias que lhe fora enviado e entregou-o a Pilatos, que o mandou crucificar.

O plano de Deus estava sendo cumprido! A cruz revela, com toda a força, até onde Deus é capaz de ir por nós: ele é capaz de se entregar, de dar a sua vida por nós! No seu Filho o Pai nos entrega tudo de precioso que ele tem! No Filho feito homem de dores, humilhado e derrotado, nós podemos compreender o quanto somos amados por Deus, o quanto ele nos leva a sério, o quanto é capaz de descer para nos procurar!

A cruz revela a estupenda e desconcertante fidelidade de Deus para connosco: nela descobrimos o verdadeiro nome do nosso Deus. E o seu nome é Fidelidade, o seu nome é Amor. Fidelidade e amor do Pai em relação ao Filho. Ao Filho amado que se entregou ao Pai por nós. Deus jamais abandona os que a ele se confiam.

Tudo o que aconteceu com Jesus na cruz foi por nós, para nossa salvação, para que o nosso pecado, a nossa situação de miséria, encontrasse expiação. Em Cristo, na cruz e ressurreição do Senhor, Deus, amorosamente nos concedeu o perdão dos pecados!

Jesus está vivo e apresenta-se aos homens do nosso tempo nos gestos de amor, de partilha, de solidariedade, de perdão, de acolhimento que os cristãos são capazes de fazer. A proposta que Jesus veio apresentar é uma proposta geradora de vida, apesar de passar pelo aparente fracasso da cruz. É de vida vivida na doação, na entrega, no amor total a Deus e aos irmãos, a exemplo de Jesus, que brota a vida eterna e verdadeira para nós e para aqueles que caminham ao nosso lado.

Contemplemos a cruz e sejamos gratos a Deus que se entrega assim!

Jesus ressuscitou verdadeiramente? Como é que podemos fazer uma experiência de encontro com Jesus ressuscitado? Como é que podemos mostrar ao mundo que Jesus está vivo e continua a oferecer aos homens a salvação? Que temos de fazer para corresponder a tanto amor, e a tão grande graça? 

1 – Crer em Jesus que por nós morreu e ressuscitou. Reconhecermos que somos pecadores e acolher Jesus como nosso Salvador. Colocarmos as nossas vidas nas suas mãos. É preciso que, em cada instante da nossa vida, nos convertamos a Jesus e aos seus valores, numa disponibilidade total para acolhermos os desafios de Deus e a sua proposta de salvação. Temos de percorrer o nem sempre claro caminho da fé, até chegarmos à certeza da ressurreição. Não se chega lá através de deduções lógicas ou através de construções de carácter intelectual; mas chega-se ao encontro com o Senhor ressuscitado inserindo-nos nesse contexto em que Jesus Se revela – no encontro comunitário, no diálogo com os irmãos que partilham a mesma fé, na escuta comunitária da Palavra de Deus, no amor partilhado em gestos de fraternidade e de serviço. É nesse “caminho” que vamos encontrando Cristo vivo, actuante, presente na nossa vida e na vida do mundo.

2 – Viver na Palavra do Senhor. A nossa fé em Jesus morto e ressuscitado deve levar a um compromisso sério com o Senhor na nossa vida concreta. A vida do crente não pode ser uma vida de “meias-tintas”, de comodismo, de opções volúveis, de oportunismos, mas tem de ser uma vida consequente, comprometida, exigente. Não sentimos, tantas vezes, a presença de Cristo a indicar-nos caminhos de vida nova e a encher o nosso coração de esperança quando lemos e meditamos a Palavra de Deus? Não sentimos o coração cheio de paz – a paz que Jesus ressuscitado oferece aos seus – quando escutamos e acolhemos as propostas de Deus, quando procuramos conduzir a nossa vida de acordo com o plano de Deus?

Pondero as seguintes questões:

– Na minha vida procuro viver, com coerência e honestidade, os meus compromissos com Deus e com os meus irmãos, ou deixo-me levar ao sabor da corrente, das situações, das oportunidades?

– A minha vida concreta, as minhas atitudes para com os irmãos que me rodeiam, os sentimentos que enchem o meu coração, os valores que condicionam as minhas acções, são coerentes com a minha fé?

3 – Sermos testemunhas de Jesus. Nós experimentamos Jesus na força da sua Palavra e na graça dos seus sacramentos, sobretudo na participação na Eucaristia. Jesus, para nós, não é um fantasma! “Por que estais preocupados tendes dúvidas no coração? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo!” Quantas vezes tocamos Jesus, sentimo-lo vivo, caminhando connosco! Tenhamos a coragem de crer em Jesus, de viver em Jesus e dele dar testemunho onde quer que estejamos e onde quer que vivamos. Jesus está vivo! O testemunho que Cristo nos pede passa, mais do que pelas palavras, pelos nossos gestos. Jesus vem, hoje, ao encontro dos homens e oferece-lhes a salvação através dos nossos gestos de acolhimento, de partilha, de serviço, de amor sem limites. São esses gestos que testemunham, diante dos nossos irmãos, que Cristo está vivo e que Ele continua a sua obra de libertação dos homens e do mundo.

Jesus ressuscitado confia aos discípulos a missão de anunciar “em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todos os povos, começando por Jerusalém”. Continuando a obra de Jesus, a missão dos discípulos é eliminar da vida dos homens tudo aquilo que é “o pecado” (o egoísmo, o orgulho, o ódio, a violência) e propor aos homens uma dinâmica de vida nova.

Senhor quantas vezes nos deixamos invadir pelas nossas dúvidas e pelos nossos medos e nos esquecemos que em todas as situações Tu estás sempre presente, Tu estás ao nosso lado.

Ajuda-me a serenar o meu coração e a abri-lo à Tua palavra e à Tua presença.

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