A tempestade acalmada

«Certo dia, Jesus subiu com os seus discípulos para um barco e disse-lhes: “Passemos à outra margem do lago”. E fizeram-se ao largo. Enquanto navegavam, adormeceu. Um turbilhão de vento caiu sobre o lago, e eles ficaram inundados e em perigo. Aproximaram-se dele e, despertando-o, disseram: “Mestre, Mestre, estamos perdidos!” E Ele, levantando-se, ameaçou o vento e as águas, que se acalmaram; e veio a bonança. Disse-lhes depois: “Onde está a vossa fé?” Cheios de medo e admirados, diziam entre eles: “Quem é este homem, que até manda nos ventos e nas águas, e eles obedem-lhe?”»
Lc. 9, 22-25

Quando o Espírito Santo me indicou esta leitura para orar e fazer as pistas de oração, achei de uma delicadeza e, até, sentido de humor do Senhor porque é uma leitura sobre Caminho e medos – algo que me está muito presente nos últimos tempos, últimos anos, mesmo.

E chamou-me logo a atenção que Jesus só diz duas frases:

“Passemos à outra margem do lago”. Jesus sempre nos desafia. E também sempre nos quer junto com Ele. Aqui fui vendo o bom que é já ter subido no barco com Ele. Não sei por vocês, mas, por mim apenas, tenho duvidas se teria optado pelo caminho do matrimónio, de construir família, de assumir a responsabilidade de um papel construtivo na sociedade alinhado com os talentos que me foram oferecidos, o me ter envolvido na construção da Comunidade, etc. Podia ter optado por algo a “rondar” lá perto, mas não seria a mesma coisa de certeza.

E o quanta ternura nos tem Deus pois nunca nos deixa de desafiar a ir mais além, atrás da outra margem.

Mas depois vêem os ventos, que, curiosamente, são feitos de nada. Sim, o vento é feito de nada. É somente ar. Assim como o dinheiro não é nada, apenas uma unidade de medição (como “metros” e “litros”). Não existem em si, apenas representam forças e intensidades sobre o nosso caminho. E neste “vento”, que enche o meu caminho de água que eu não consigo carregar, eu ponho a incerteza financeira no meu mês a mês; a insegurança se estou a fazer o melhor para o meu futuro e da minha família (terei poupanças para ajudar os meus filhos? Estou a dar-lhes a melhor educação possível? Terei conforto suficiente para desfrutar da vida com a Linda mulher da minha vida?). E, vivendo tudo isto me faz gritar por Jesus porque fico perdido.

Aqui entra a segunda frase de Jesus na leitura: “onde está a vossa fé?”

Não sinto Jesus irritado ou censurando-me pela falta de fé, mas sim a convidar-me a estar com Ele, a entrar em oração para desabafar tudo, pôr as inseguranças, as ansiedades e todo o meu afecto, preenchido ou carente. E também para pedir tudo o que mais quero, inclusive soluções práticas para os problemas ou sentido para o que tem ou não de sair. E é assim, nesse espaço, por vezes curto, que deixo que seja Deus, meu Pai, a construir dessa forma em mim a confiança firme, a clareza de ideias e a força de coração que acalma ventos e águas. Só por saber que estou em caminho com Jesus. Ou seja, a ter fé – essa força dinâmica de quem vive com Jesus, desde que não O deixe adormecido enquanto navego 😉 Porque o Senhor não nos pede nada que não consigamos alcançar e nunca sabemos à certa até onde vai o nosso coração nas mãos de Deus.

Que o Espírito Santo nos dê animo e coragem para entrarmos em oração nua e funda com o Senhor.

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