Cada vez faz mais sentido este ano da Misericórdia que se aproxima…

“Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. O mistério da fé cristã parece encontrar nestas palavras a sua síntese. Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré. O Pai, «rico em misericórdia» (Ef 2, 4), depois de ter revelado o seu nome a Moisés como « Deus misericordioso e clemente, vagaroso na ira, cheio de bondade e fidelidade» (Ex 34, 6), não cessou de dar a conhecer, de vários modos e em muitos momentos da história, a sua natureza divina. Na «plenitude do tempo» (Gl 4, 4), quando tudo estava pronto segundo o seu plano de salvação, mandou o seu Filho, nascido da Virgem Maria, para nos revelar, de modo definitivo, o seu amor. Quem O vê, vê o Pai (cf. Jo 14, 9). Com a sua palavra, os seus gestos e toda a sua pessoa, Jesus de Nazaré revela a misericórdia de Deus. Precisamos sempre de contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o acto último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado. Há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai. Foi por isso que proclamei um Jubileu Extraordinário da Misericórdia como tempo favorável para a Igreja, a fim de se tornar mais forte e eficaz o testemunho dos crentes. (…) Esta festa litúrgica indica o modo de agir de Deus desde os primórdios da nossa história. Depois do pecado de Adão e Eva, Deus não quis deixar a humanidade sozinha e à mercê do mal. (…) Perante a gravidade do pecado, Deus responde com a plenitude do perdão. A misericórdia será sempre maior do que qualquer pecado, e ninguém pode colocar um limite ao amor de Deus que perdoa.”
Bula de Convocação – ano da Misericórdia – Papa Francisco


Rezo estas pistas no rescaldo dos acontecimentos em Paris… tento compreender este mundo onde vivemos, onde os meus filhos estão a crescer, onde se mata e se morre em segundos, onde se espalha horror, onde se vivem horrores, onde há pessoas que estão sós, que são “transparentes” porque passo por elas e não as vejo, onde se persegue e é perseguido, onde o ritmo alucinante dos dias nos levam às vezes por caminhos às cegas, sem olhar à volta, sem um segundo olhar para as pessoas, quanto mais um olhar de amor ou compaixão! … E cada vez me faz mais sentido este ano da Misericórdia que se aproxima…

Precisamos realmente da misericórdia de Deus!…desta esperança de que o mal, o egoísmo, os interesses económicos, a indiferença, a correria, não são a ultima palavra. Preciso desta esperança maior que há uma alternativa, há uma Amor muito maior… que Tu, Senhor, tens uma palavra a dizer, tens uma Esperança a oferecer… que poderemos recomeçar. E recomeçar, perdoando. Sentindo o Teu perdão, porque também nós muitas vezes nos deixamos levar pelo turbilhão, mas sendo capazes também nós de perdoar… quantas vezes, nas nossas famílias, somos os primeiros a ser intolerantes, a não aceitar a diferença? A compactuar com situações de hipocrisia, de falta de amor? De morte?…

No outro dia falava com uma colega que dizia que, enquanto estava à minha espera de manhã, olhava para as pessoas que entravam no metro e iam todas um pouco despenteadas, a arranjarem-se pelo caminho… hoje ia no carro e ouvia a radio e eles falavam em pessoas que tomam o pequeno almoço no carro, e eu pensei “wow!”… o que andamos a fazer? Porque corremos tanto? Como queremos construir um mundo melhor, se andamos a correr? Se nem pensamos no que queremos construir? … Que esperanças acalentamos? Que esperança vive em mim? A esperança de Deus ou a minha esperança?… Por acaso já parei para perguntar a Deus que esperança tem Ele para este mundo?

Como me preparo para este desafio que o Papa nos deixa? Como preparo o meu coração? Como posso também eu ser rosto da misericórdia de Deus no mundo?

Os comentários estão encerrados.