«Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho»

Celebramos hoje a festa da santa cruz. Lembrei-me das palavras do Papa Francisco na Evangeli Gaudium, 5: “O Evangelho, onde resplandece gloriosa a Cruz de Cristo, convida insistentemente à alegria”. Porque não havemos de entrar, também nós, nesta torrente de alegria?


Entremos então na alegria através da leitura do Evangelho de hoje (Jo 3, 13-17):
Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Ninguém subiu ao Céu senão Aquele que desceu do Céu: o Filho do homem. Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, também o Filho do homem será elevado, para que todo aquele que acredita tenha n’Ele a vida eterna. Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele».


Hoje não é um dia de tristeza, é um dia de alegria, de profundo agradecimento. Mas porquê? Deus quer resgatar-nos da morte e dar-nos a Vida. Para isso inverte tudo: chega até ao cúmulo de nos dar a sua própria vida em seu Filho, que entrega a vida por nós. Deus não me dá a vida como uma coisa, como algo externo a Ele: Deus dá-me a Vida entregando-se a si mesmo.
Disse o Papa Francisco: “No deserto, existe sobretudo a necessidade de pessoas de fé que, com as suas próprias vidas, indiquem o caminho para a Terra Prometida, mantendo assim viva a esperança». Em todo o caso, lá somos chamados a ser pessoas-cântaro para dar de beber aos outros. Às vezes o cântaro transforma-se numa pesada cruz, mas foi precisamente na Cruz que o Senhor, trespassado, se nos entregou como fonte de água viva. Não deixemos que nos roubem a esperança!
Não deixemos que nos roubem a alegria da cruz. Disse Etty Hillesum na sua oração antes de ir para um campo de concentração: “Cada dia já tem a sua conta. Vou ajudar-te Deus, a não me abandonares, apesar de eu não poder garantir nada com antecedência. Mas torna-se-me cada vez mais claro o seguinte: que tu não nos podes ajudar; que nós é que temos de te ajudar, e, ajudando-te, ajudamo-nos a nós próprios. E esta é a única coisa que podemos preservar nestes tempos, e também a única que importa: uma parte de ti em nós, Deus. E talvez possamos ajudar a pôr-te a descoberto nos corações atormentados de outros.”
Pessoas cântaro, pessoas que sabem e conhecem as dificuldades mas também sabem ser a consolação dos outros. Sabem acompanhar, estar, escutar, compreender, sabem apreciar a vida e a dor, a alegria e a tristeza e falam duma felicidade maior que não depende do sucesso ou do fracasso mas do Amor.


Sabes, Jesus, gostava tanto saber entregar a vida como Tu. Não ter medo da cruz. Ajuda-me, ensina-me a contemplar-te, a descobrir em ti essa torrente de alegria e de felicidade que é autêntica, que não defrauda, e que leva a ser tão livre como Tu.

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