Educar as expectativas para o Natal

“O deserto e a terra árida vão alegrar-se,
a estepe exultará e dará flores belas como narcisos.
Vai cobrir-se de flores
e transbordar de júbilo e de alegria.
Tem a glória do Líbano,
a formosura do monte Carmelo
e da planície de Saron.
Verão a glória do Senhor
e o esplendor do nosso Deus.
Fortalecei as mãos débeis,
robustecei os joelhos vacilantes.
Dizei aos que têm o coração indeciso:
«Tomai ânimo, não temais!»
Eis o vosso Deus, que vem para vos vingar.
Deus vem em pessoa retribuir-vos e salvar-vos.
Então se abrirão os olhos do cego,
os ouvidos do surdo ficarão a ouvir,
o coxo saltará como um veado,
e a língua do mudo dará gritos de alegria;
porque as águas jorraram no deserto
e as torrentes na estepe.”
Isaías 35, 1-6

“Sede, pois, pacientes, irmãos, até à vinda do Senhor. Vede como o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando com paciência que venham as chuvas temporãs e as tardias. Tende, também vós, paciência e fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima.”
Carta de Tiago 5, 7-10

“Ora João, que estava no cárcere, tendo ouvido falar das obras de Cristo, enviou-lhe os seus discípulos com esta pergunta: «És Tu aquele que há-de vir, ou devemos esperar outro?» Jesus respondeu-lhes: «Ide contar a João o que vedes e ouvis: Os cegos vêem e os coxos andam, os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a Boa-Nova é anunciada aos pobres.”
S. Mateus 11, 2-11

Nestas leituras encontramos o convite a duas atitudes para preparar a vinda do Senhor: Por um lado a paciência – estamos chamados a permanecer na vida que temos e nas suas realidades, nomeadamente as menos agradáveis, porque é nela, que a seu tempo, Jesus se manifestará. Por outro lado, o convite à esperança, à alegria. Se sabemos que Jesus vai (re)nascer em nós e em toda a parte, que os cegos vão ver e os coxos andar, que Jesus vai transformar a nossa vida e a dos outros para um interior melhor, então é bom antecipar essa expectativa e começar desde já a gozar da alegria de saber o que nos espera. Nessa alegria, nessa esperança, preparamos o coração para receber o Senhor.

Estas leituras são um chamamento à educação das expectativas. Se a perspectiva de um momento de lazer, de descanso, de prazer ou de reconhecimento nos anima tanto e por vezes nos dá a energia que falta para prosseguir com as nossas responsabilidades quanto mais não nos deverá animar a perspectiva de Jesus renascer. Estamos chamados a reconhecer o sagrado que se reaproxima e as suas maravilhosas consequências para nós e para todos, antecipando essa graça no nosso coração, a ponto de falar mais alto que os outros estímulos exteriores, que não podem durar como o amor de Deus dura.

Educar as expectativas é educar para o optimismo. O optimismo aprende-se já com o antigo testamento – deus comunicou ao homem quanto bastava para que soubesse esperar Jesus com alegria – as bases do optimismo, da esperança, são como as raízes das árvores: coisas seguras e profundas. O optimismo precisa de ter em que se basear. Ninguém é optimista por tontice ou ingenuidade, embora haja fatores genéticos. Por isso é que são importantes as experiências (ainda que pontuais) de relação com Deus – a âncora forte e porto seguro é a profundidade da experiência espiritual que deixará as suas marcas, marcas a que mais tarde a memória afetiva e intelectual possa recorrer para ter um porquê ser otimista. Por isso o que nos faz preparar a vinda de Jesus com alegria é que tal como os homens do antigo testamento, temos uma relação com Deus anterior a este momento, e sabemos como é bom o que aí vem.

Para podermos antecipar a alegria e ser otimistas, além do exercício de memória, temos também de renovar os passos que nos suportam o ato de acreditar – é por isso que a fé vive igualmente de gestos muito básicos que já no tempo do antigo testamento e dos dez mandamentos se enunciavam: farás umas coisas e outras não.

O segredo de ver o copo meio cheio e não meio vazio é que já deixámos que Ele nos matasse a sede com a sua água e por isso sabemos como é boa e suficiente, a ponto de valorizar a que temos e não a que nos falta.

O próprio céu, que de dia por vezes tem as nuvens carregadas, quando é noite mostra também a estrela pela qual os reis magos se guiaram para ir em busca de Jesus. Uma diferença importante é que a estrela está sempre lá. Ao passo que a nuvem não. Queremos basear-nos em referências desagradáveis que passam ou referências boas que duram? Ajuda-nos Senhor a preparar o coração para a Tua vinda.

 

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