«Escolheu doze, para andarem com Ele e para os enviar a pregar»

Querido Pai, bom dia. Começo por te agradecer por tudo aquilo que tantas vezes dou por adquirido: a vida, a saúde, o amor dos meus pais, do meu marido e filhos, família, amigos verdadeiros, trabalho, conforto. Tenho escutado testemunhos de pessoas que vivem realidades tão diferentes, que passam por tantas dificuldades todos os dias, que me pergunto como conseguem… Antes de mais o meu pedido vai para todas estas pessoas para que possam encontrar-te e ter toda a ajuda necessária. Depois, que me faças consciente desta graça em que vivo e que isso seja o bastante para viver a vida que sonhaste para mim.


O nosso encontro é hoje nas palavras de S. Marcos 3,13-19:
Naquele tempo, Jesus subiu a um monte. Chamou à sua presença aqueles que entendeu e eles aproximaram-se. Escolheu doze, para andarem com Ele e para os enviar a pregar, com poder de expulsar demónios. Escolheu estes doze: Simão, a quem pôs o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, irmão de Tiago, aos quais pôs o nome de Boanerges, isto é, «Filhos do trovão»; André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago de Alfeu, Tadeu, Simão o Cananeu e Judas Iscariotes, que depois O traiu.


Hoje falas-me de chamamento. Jesus, acolheste a tua missão e procuraste amigos para te acompanhar. Escolheste “quem entendeste”. Cada um de forma concreta. Conhecias a personalidade, história e expectativas de cada escolhido. Tinham vindo a desenvolver um conhecimento gradual, vivendo experiências de dia-a-dia, onde se incluíam momentos fortes como os milagres em pessoas da comunidade. Pouco a pouco foste consolidando uma amizade que foi para além disso: passou a ser uma identificação, o encontro do sentido de vida daquele que foi escolhido. Também assim vejo a minha história de amizade contigo. Foi gradual, começando na catequese, por vezes lá mais aborrecida, mas que deu frutos: fez-me gostar de ti.
Numa passagem anterior dizes que “não vieste para chamar os justos mas os pecadores.” Como me sinto chamada por ti, confesso que esta resposta não me agrada muito. Mas entendo-a e reconheço. A salvação é para todos. E, se somos todos pecadores, uns mais que outros sei lá, faz todo o sentido que quisesses escolher aqueles que mais precisam de ser salvos. Correste foi um risco considerável. Tendo em conta as circunstâncias da altura, se fosse eu teria escolhido os melhores candidatos a apóstolo. Não os mais rudes, desonestos, carregados de defeitos e má imagem. Diz a leitura que Tu os escolheste para andarem contigo e para serem enviados a pregar, tendo o poder de expulsar os demónios. Sem dúvida que o primeiro terreno a trabalhar, terreno fértil, é o próprio/a. O meu eu. Este eu está cheio de demónios: “não és amada, não tens utilidade, não consegues, e por aí fora….” e obviamente estando perto de ti, este eu pecador tem oportunidade de ser trabalhado para dar um bom fruto.
Este chamamento não se esgotou nos apóstolos. Chamas-me hoje também. Chamas o meu irmão e a minha irmã, chamas aquele de quem não gosto e que me apetece até que nem chames. Pedes-me que acolha todas as tuas escolhas. Sobretudo quando não parecem ter senso, incluindo, por vezes, a minha própria chamada. A tua lógica Jesus continua a desconcertar-me e paradoxalmente é precisamente aquilo que mais me atrai e procuro recriar.


Hoje, Jesus peço que me ajudes a reconhecer e a concretizar o meu chamamento da melhor forma que for capaz. E que aceite o caminho que os outros também estão a fazer nessa busca e concretização e os possa ajudar da melhor forma que puder.

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