“O jovem Samuel servia o Senhor sob a direcção de Eli. O Senhor, naquele tempo, falava raras vezes e as visões não eram frequentes. Ora certo dia aconteceu que Eli estava deitado, pois os seus olhos tinham enfraquecido e mal podia ver. A lâmpada de Deus ainda não se tinha apagado e Samuel repousava no templo do Senhor, onde se encontrava a Arca de Deus. O Senhor chamou Samuel. Ele respondeu: «Eis-me aqui.» Samuel correu para junto de Eli e disse-lhe: «Aqui estou, pois me chamaste.» Disse-lhe Eli: «Não te chamei, meu filho; volta a deitar-te.» O Senhor chamou de novo Samuel. Este levantou-se e veio dizer a Eli: «Aqui estou, pois me chamaste.» Eli respondeu: «Não te chamei, meu filho; volta a deitar-te.» Samuel ainda não conhecia o Senhor, pois até então nunca se lhe tinha manifestado a palavra do Senhor. Pela terceira vez, o Senhor chamou Samuel, que se levantou e foi ter com Eli: «Aqui estou, pois me chamaste.» Compreendeu Eli que era o Senhor quem chamava o menino e disse a Samuel: «Vai e volta a deitar-te. Se fores chamado outra vez, responde: «Fala, Senhor; o teu servo escuta!» Voltou Samuel e deitou-se. Veio o Senhor, pôs-se junto dele e chamou-o, como das outras vezes: «Samuel! Samuel!» E Samuel respondeu: «Fala, Senhor; o teu servo escuta!» (…) Samuel ia crescendo, o Senhor estava com ele e cumpria à letra todas as suas predições. Todo o Israel, desde Dan até Bercheba, reconheceu que Samuel era um profeta do Senhor.”
1 Samuel 3, 1-10.19-20

Deus chamou Samuel mas este não reconheceu a voz do Senhor. Não estava ainda preparado para ouvir a voz do Senhor e conseguir responder-Lhe.
Conta-se uma lenda passada na Idade Média, relatando que um pároco que tinha na sua paróquia um convento de freiras e, como queria catequizar a sua paróquia, resolveu ir ao convento pedir à madre que lhe dispensasse uma das suas freiras para o ajudar nessa tarefa. A madre escolheu uma das freiras com mais capacidades, mas resolveu pô-la à prova, para ver se estava verdadeiramente preparada para a missão de levar Jesus aos paroquianos.
Colocou-a ao serviço na horta do convento e ela empenhou-se em procurar fazer tudo muito bem e de forma perfeita. Ao fim de algum tempo, perguntou à madre se achava que já estava preparada para ir catequizar, mas a madre disse-lhe que não e enviou-a um tempo para a portaria, onde ela tinha muitas tarefas, nomeadamente, atender muitas pessoas, acolher peregrinos…e tudo ela fez muito bem, com empenho, simpatia e perfeição; a madre chamou-a e ela perguntou se já estava pronta, ao que a superiora disse que ainda não estava. E enviou-a para o meio dos doentes de peste, para que a religiosa ajudasse no tratamento dos doentes. E ela fê-lo com todo o empenho, carinho e muito esforço. Mas acabou por apanhar a doença e teve que regressar ao convento muito combalida e frágil, para aí ser tratada. A madre diz-lhe então: “Agora que experimentaste a tua própria fraqueza, agora sim, estás preparada para levar Jesus aos paroquianos!”
Samuel também não estava ainda preparado nem familiarizado com a voz do Senhor. Quando assumiu a sua condição de servo fraco, humilde e disponível, aí sim, ficou preparado para ouvir a Palavra do Senhor e pôr em prática a Sua vontade!
Tenho rezado este texto de Samuel e senti que por vezes, também eu tenho achado que estou muito bem preparada para fazer “coisas” na Igreja, chego a oferecer-me para várias tarefas para as quais acabo por não ser requisitada, o que me deixa sempre com uma sensação de desilusão. Neste texto de Samuel encontro a resposta: ainda não estou preparada! Posso até empenhar-me e executar as actividades muito bem, mas preciso primeiro, de tomar consciência da minha fraqueza, da minha condição de serva, de estar disposta a ouvir o Senhor para então, poder fazer a Sua vontade!
Para ouvir o Senhor e reconhecer a Sua voz, preciso de passar muito tempo com Ele, entrar na Sua intimidade, ficar com Ele, como fizeram os discípulos de João Batista, com Jesus!