«Havia outra vez uma grande multidão e não tinham que comer»

Meu querido Deus, como me andas a sentir? Sentes-me atenta? Dispersa? Cansada? Tenho andado a ajudar-te para que as vidas das outras pessoas sejam mais cheias de esperança e sentido?
Nos dias de Natal ouvi uma frase que tem andado comigo, que diz assim: “Procuramos uma estrela que nos guie a nós próprios, mas, nem sempre, essa estrela também guia os outros”.
Contínuo a pedir-te, meu Deus, que eu procure e consiga ir seguindo a estrela polar que és Tu, mas mais ainda, para que essa luz irradie o mundo que me rodeia.


Esta passagem de hoje, de Marcos 8, 1-10, ajuda-me a ter presente as necessidades deste mundo e como me coloco diante delas; pois mostra-me como Tu as viveste.
Naqueles dias, havia outra vez uma grande multidão e não tinham que comer. Jesus chamou os discípulos e disse: «Tenho compaixão desta multidão. Há já três dias que permanecem junto de mim e não têm que comer. Se os mandar embora em jejum para suas casas, desfalecerão no caminho, e alguns vieram de longe.» Os discípulos responderam-lhe: «Como poderá alguém saciá-los de pão, aqui no deserto?» Mas Ele perguntou: «Quantos pães tendes?» Disseram: «Sete.» Ordenou que a multidão se sentasse no chão e, tomando os sete pães, deu graças, partiu-os e dava-os aos seus discípulos para eles os distribuírem à multidão. Havia também alguns peixinhos. Jesus abençoou-os e mandou que os distribuíssem igualmente. Comeram até ficarem satisfeitos, e houve sete cestos de sobras.
Ora, eram cerca de quatro mil. Despediu-os e, subindo logo para o barco com os discípulos, foi para os lados de Dalmanuta.


Volto novamente às primeiras palavras desta leitura- “Havia outra vez uma grande multidão e não tinham que comer”. Realmente é impossível não sentir o olhar e o toque de tantos à nossa volta, que precisam de nós. E são tantos… Às vezes, vivemos a achar que já temos muitas preocupações connosco e com a nossa família, mas não alargamos o nosso mundo. É como um instrumento musical em que tocamos sempre nas mesmas cordas e ouvimos sempre os mesmos acordes, e já achamos tão complicado mantê-lo afinado e a funcionar… Mas, se passamos a vida assim, corremos o risco de nunca chegar a ouvir alguns outros acordes, mais agudos ou graves, que poderiam mudar o nosso coração. Também nós somos chamados a ter os olhos e os ouvidos abertos, a ir ver mais além do que nos é dado ver.
Há tantos sofrimentos.
Já me desinstalei da minha rotina e, por exemplo: fui visitar um doente que não tem ninguém que o visite? já estive ultimamente com alguém que não tem uma casa para viver, que não tem dinheiro ao fim do mês para pagar a renda? Que tem uma doença terminal e sabe que vai morrer? Que está numa prisão? Alguém que vive sozinho numa profunda solidão?
Para mim, olhar estes olhares e ouvir estas vozes, tem transformado o meu coração e tem-me ajudado a não estar tão centrada no meu mundo. Jesus disse: “Tenho compaixão desta multidão…que permanece junto de mim”.


Peço- te, meu Deus, que o meu coração não endureça e não se feche, mas que se vá abrindo a esta ternura que vem, também, de ser tocada por vidas e dores, por vezes, tão diferentes das minhas. Peço- te também que daí resulte alguma mudança, e que me coloque a possibilidade de algo novo, a partir desta pergunta: «Quantos pães tendes?»

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