«A fragilidade humana descansa nas mãos de Deus»

“Vinde a Mim todos os que estais cansados e sobrecarregados e Eu vos aliviarei. Aprendei Comigo que sou manso e humilde de coração” 
Mt 11, 28-29

Aprender com Jesus a ser humanos. A ser o que se é, sem zanga, rebeldia, lutas… A viver o que se tem com acolhimento, com confiança, com gratidão…

Nada somos que não nos tenha sido dado. Tudo nos é entregue, nada conquistamos, ganhamos, merecemos.

“Nada trouxemos para este mundo e nada podemos levar dele. Contentemo-nos pois com o que temos… Os que procuram a riqueza (ser mais, ter mais, fazer mais…) caem na tentação e em múltiplos desejos insensatos e nocivos que mergulham o homem na perdição e na ruína… Tu, ó homem de Deus…procura antes a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança, a mansidão” (cf 1 Tm 6, 7–11)

“Procurai primeiro o Reino de Deus e tudo o mais vos será dado por acréscimo” (Mt 6, 33)

Tudo nos será dado, nos irá sendo dado, com uma gratuidade tal que não chegamos a crer.

A mansidão é o contrário da agitação, da avidez, do orgulho. É antes uma «atitude passiva de receção» – custa-nos tanto acolher algumas dimensões da vida…

Os que chegam a ser mansos não recusam nada, não exigem nada. Estão abertos ao que vem. Aprenderam a ir interiorizando as contrariedades de cada dia e a ir criando um espaço vazio em si, onde acolhem a realidade, tal como é, e onde a afirmam. Esvaziados de si mesmos, dão espaço à existência.

Há um anúncio de felicidade para os mansos, porque são eles os que herdam a terra (Mt 5,5). Herdam-na, não a conquistam.

Face ao jugo do perfeccionismo ou da culpabilidade, face a tantas vozes interiorizadas que não nos deixam acolher o que somos…o jugo que Jesus nos oferece é suave: é o da vida sustentada pelo Dom de Deus. Não é o jugo de quem está livre de fraqueza ou de contrariedades mas o de quem se sabe sustentado por um Amor maior.

É suave a condição humana quando, em vez de ter de ocultar a nossa debilidade, descobrimos com assombro que é ela que nos leva a aproximarmo-nos dos outros sem magoar.. Quando se vive da forma agradecida o que se é, também a fragilidade, é mais fácil perdoar do que condenar, compreender do que murmurar e criticar, aceitar do que julgar…

Carregar com a nossa humanidade em toda a sua dimensão e com toda a sua beleza, carregar com o dissonante de nós mesmos, suportar o que quereríamos deitar fora, carregar com o não amável em nós para poder acolhê-lo nos outros; chegar a experimentar que não carregamos o peso sós, que há um Outro que sempre ama, sempre desculpa, sempre acredita, tudo suporta.

Talvez seja esta a aprendizagem principal da nossa vida: «a fragilidade humana descansa nas mãos de Deus». Chegar a afirmar isto, não porque o ouvimos mas porque o experimentámos e saboreámos interiormente. Só assim poderemos também ser para os outros, lugar de descanso e acolhimento dos cansaços e fragilidades que transportam.

(cf “el descanso de una presencia humilde, Mariola López Villanueva, RSCJ –revista sal terrae, mayo 2006)

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