O encontro com o Senhor só é possível no aqui e no agora.

“Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, porque nada é impossível a Deus.» Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela. Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.”
Lc 1, 26-41

Neste Advento, gostaria de aprender a viver o Presente. Precisamos viver o Presente, pois essa é a única verdadeira forma de viver a Sua Presença. Viver o hoje, o aqui e o agora. Penso que isto é o que mais nos impede de viver plenamente, com Ele e por Ele, as nossas vidas. Não só o Natal. Mas toda a nossa vida.

Maria podia ter ficado presa ao passado, aos tempos fáceis da vida de uma rapariga simples de uma pequena vila. Podia ter dito que “não”. Ou podia simplesmente ter continuado a viver como se nada de novo tivesse acontecido, encurralando-se no passado, não assumindo o presente. Não o fazemos tantas vezes? Sim, às vezes vivemos agarrados ao passado. Ao que já tivemos. Ao que já fomos capazes de viver. Aos momentos que passámos com aqueles amigos. Àquela terra onde vivemos e fomos tão felizes. À família que já não está entre nós. Aos nossos filhos pequeninos. Aos momentos verdadeiramente mágicos que um dia tivemos a sorte de viver. Aos antigos tempos mais fáceis, mas que já não existem, procurando fugir, ou não assumir, o presente que nos desagrada ou assusta. Recordar é bom, mas a nostalgia não nos pode impedir de estar no Presente, o único tempo que verdadeiramente temos. Afinal, vivemos a nossa realidade ou vivemos uma fantasia? A que nos chama o Senhor? Onde Se quer Ele fazer Presença? Ele vive na nossa realidade e não nas nossas ilusões. Temos consciência disto?

Ou, pelo contrário, Maria podia ter ficado centrada no futuro. Paralisada com o medo do que lhe poderia vir a acontecer. O que iriam as pessoas pensar dela? Como iria José acreditar nela? Iriam apedrejá-la? Teria de viver sozinha com o seu filho? Ui, o quanto isto me acontece a mim. Costumam dizer-me que sofro por antecipação, e é mesmo verdade. Não vivo o presente, com medo do futuro! Há maior disparate? Presumo que não. E não vivemos também, tantas vezes, assim o Advento? Centrado unicamente no Natal, na expectativa daqueles dois ou três dias, desperdiçando toda a Vida que podemos ter já hoje, esquecendo-nos das pessoas que o Senhor nos oferece hoje?

Maria podia, ainda, ter ficado centrada naquele Grande Acontecimento, limitando-se a preparar tudo, o melhor possível, para aquela vinda. Não vivemos, tantas vezes, as nossas gravidezes assim? Como se nada mais existisse no mundo? Não vivemos os nossos problemas, as nossas realidades, assim? Como se não existisse mais ninguém no mundo, como se fossemos os únicos nesta galáxia a ter problemas e dificuldades na vida?

Mas Maria viveu o presente, na inteira Presença do Senhor. Por isso vai ter com a sua prima Isabel. Esse é o seu Presente e Isabel é a Presença e nela Maria faz-se também Tua Presença.

Por isso mais tarde vai com José para Belém, apesar do seu avançado estado de gravidez. Vive a Presença do Senhor, entregando-se a Ele e à Vida em todos os momentos, no seu Presente. Sabe que é aí que o Senhor se encontra connosco. Não num passado que já não existe. Não num futuro que ainda não é.

O encontro com o Senhor só é possível no aqui e no agora.

Os comentários estão encerrados.