O Poder do Gesto

“E, começando por Moisés e seguindo por todos os Profetas, explicou-lhes, em todas as escrituras, tudo o que Lhe dizia respeito. Ao chegarem perto da aldeia para onde iam, fez menção de seguir para diante. Os outros, porém, insistiam com Ele, dizendo: «Fica connosco, pois a noite vai caindo e o dia já está no ocaso.» Entrou para ficar com eles. E, quando se pôs à mesa, tomou o pão, pronunciou a bênção e, depois de o partir, entregou-lho. Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no; mas Ele desapareceu da sua presença. Disseram, então, um ao outro: «Não nos ardia o coração, quando Ele 
nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?”
Lc 24, 27-32
 
Deus fala-nos de muitas formas. Quando abrimos os olhos é inevitável sentir o seu apelo a olhar mais de perto para aquilo que vivemos, pois as Suas inquietações estão mesmo ao nosso lado, mesmo quando achamos que estamos a olhar para muito longe.
Há alguns dias que sigo os acontecimentos no Cairo. Este acontecimento só por si já seria mais que suficiente para me questionar e me colocar diante de Deus na oração, mas entanto, foi uma daquelas coincidências só possíveis há velocidade da era digital que me fez parar e olhar para dentro.
Um canal de noticias estrangeiro escondido lá para o fim duma lista das centenas de canais disponíveis, apresentava em directo imagens de cidadãos Egípcios opositores ao regime a serem apedrejados na Praça da Liberdade e a manterem-se firmes nas suas posições, nos seus desejos de liberdade e democracia.
Impressionado com esta situação bem lá longe no Egipto, mudei para um canal nacional para tentar obter o impacto mais próximo deste acontecimento. De facto encontrei uma noticia em que um jornalista com um ar dramático falava sobre um apedrejamento, mas desta feita executado por alguém que desiludido com uma equipa de futebol decidiu atirar pedras para o um autocarro onde seguiam jogadores dessa mesma quipa. Voltei a carregar no botão do comando para ver a noticia realmente séria e a diferença de cenário tão instantânea ecoou-me como um grito de inconformismo.
Em dois segundos dois gestos tão semelhantes e realidades tão distintas: o lançamento de uma pedra a um irmão, um povo em luta pela liberdade e
outro a perder tempo com tamanha pequenez. O mesmo gesto até podia ter consequências iguais, provocar ferimentos ou morte, mas um coloca a vida em causa pela liberdade e até pela própria vida o outro coloca a vida em causa por nada. No entanto, aquele que coloca a vida em causa por nada aparece num canal bem acessível enquanto que o outro aparece lá bem para o fim da grelha……
Em dois segundos senti as Suas inquietações.
Que valor dou aos meus gestos? Qual é alcance real dos meus gestos num dia de trabalho? Junto daqueles que me acompanham, na família, amigos?
Num mundo em que tão rapidamente podemos mudar de contexto, como vivo os meus gestos? Como comunico? Como uso as tecnologias e me deixo afectar por elas (telemóveis, internet , redes sociais….)?
Deixo Deus entrar nos meus gestos?

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