Os dois amigos

Ontem, no tempo de oração com os meus filhos, o meu filho mais velho disse:
– Mãe, no meu livro de Português está um texto que podíamos ler no tempo de oração.
E leu-o:

“Os dois amigos

Dois amigos viajavam pelo deserto, caminhando em amena conversa, apesar do Sol abrasador. Um deles, porém, sentindo-se contrariado pelo outro, encetou uma discussão. (…) Em dado momento da contenda, não resistiu e esbofeteou-o.

Admirado e ofendido, mas sem nada dizer, o amigo baixou-se e escreveu na areia: Hoje, o meu melhor amigo bateu-me no rosto.

Seguiram viagem, tristes e em silêncio. (…) Até que avistaram um oásis verde (…). E o que tinha sido esbofeteado despiu-se, mergulhou na água do oásis e principiou a refrescar-se. Contudo, passados minutos, perdeu o pé. E em breve se afogaria, não fosse a ajuda do amigo que, ao escutar os gritos, largou tudo e acorreu ao chamamento, mergulhando na lagoa e arrastando o companheiro para a margem.

Quando, ao fim de algum tempo, este se sentiu recuperado, pegou num estilete, dirigiu-se a uma pedra e nela escreveu: Hoje, o meu melhor amigo salvou-me a vida.

Intrigado, o outro perguntou:

– Porque é que, depois de te bater, escreveste na areia e, agora, que te salvei, foste escrever na pedra?

A sorrir, o primeiro respondeu:

– Quando um grande amigo nos ofende, devemos escrever na areia, onde o vento do esquecimento e do perdão se encarrega de apagar as palavras. Quando, porém, faz por nós alguma coisa de verdadeiramente nobre, ah… aí devemos gravar as palavras que o recordam na pedra da memória e do coração, onde nenhum vento do mundo as poderá apagar. (…)”

João Pedro Mésseder e Isabel Ramalhete (sel., adapt. e rec.), 2009. Contos e Lendas de Portugal e do Mundo. Porto: Porto Editora

Quando terminou de ler, agradeci-lhe profundamente:
– Muito, muito obrigada por teres partilhado este texto com a família. Não imaginas o quanto este texto me ajudou e me vai continuar a ajudar!!
Como reagimos perante as (pequenas ou grandes) contrariedades da vida?
E concretamente quando essas contrariedades têm origem em pessoas que amamos profundamente?

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