Pai, hoje peço-te que me dês força e coragem para ser vulnerável

“(…) A vergonha é facilmente percebida como o medo da ausência de relação/desconexão: há alguma coisa em mim que, se as outras pessoas souberem ou virem, então faz de mim não merecedora de relação/conexão? As coisas que vos posso dizer acerca disso: é universal; e todos temos isso. O que sustenta isto é uma vulnerabilidade excruciante. Esta ideia de que, para que a relação/conexão aconteça, temos que nos deixar ser vistos, realmente vistos. (…) Só havia uma variável que separava as pessoas com um forte sentido de amor e integração das pessoas que realmente lutaram por isso. E isso era, as pessoas que tinham um grande sentido de amor e integração acreditavam que eram dignas de amor e integração. É isso. Elas acreditavam que eram dignas.
O que tinham em comum era um sentido de coragem. E eu quero separar coragem e bravura num minuto. Coragem, a definição original de coragem, quando primeiro integrou a língua inglesa,- vem da palavra em Latim “cor”, que significa “coração”- e a definição original era “contar a história de quem tu és com todo o teu coração”. Então estas pessoas tinham, muito simplesmente, a coragem de ser imperfeitas. Tinham a compaixão para ser bondosas consigo próprias primeiro e depois para com os outros, porque, pelo que parece, não somos capazes de praticar compaixão para com os outros se não nos tratamos a nós com bondade. E, por último, estas pessoas tinham relação/conexão, e – esta é a parte complicada – como resultado da autenticidade, elas estavam dispostas a largar a ideia de quem pensavam que deviam ser, de forma a ser quem realmente eram, o que temos absolutamente de fazer para nos relacionarmos/conectarmos. A outra coisa que tinham em comum era isto: elas abraçavam totalmente a vulnerabilidade. Acreditavam que o que as tornava vulneráveis era o que as tornava bonitas. Não falavam do facto de a vulnerabilidade ser confortável, nem de ser realmente excruciante – como eu tinha ouvido antes nas intervistas sobre a vergonha. Elas só falaram sobre a vulnerabilidade ser necessária. Falaram sobre a vontade de dizer, “Eu amo-te” primeiro… A vontade de fazer algo mesmo que não haja garantias… A vontade de respirar durante a espera pela chamada do médico depois de uma mamografia. A sua vontade de investir numa relação que pode ou não resultar. Elas pensavam que isto era fundamental.
Assim, isto foi o que aprendi. Nós entorpecemos a vulnerabilidade. O problema é – e eu aprendi isto com a investigação – que não podemos entorpecer selectivamente emoções. Não podes dizer, aqui estão as coisas más. Aqui está a vulnerabilidade, aqui está a dor, aqui está a vergonha, aqui está o medo, aqui está a desilusão. Eu não quero sentir isto. Eu vou mas é beber umas quantas cervejas e comer um queque de banana e noz. Não podes entorpecer esses sentimentos difíceis sem entorpeter os outros afectos, as nossas emoções. Não podes entorpecer selectivamente. Assim, quando entorpecemos os maus, entorpecemos a alegria, a gratidão, a felicidade. E depois, tornamo-nos miseráveis, e andamos à procura de propósito e significado, e depois sentimo-nos vulneráveis, então, bebemos umas quantas cervejas e comemos um queque de banana e noz. E tudo se transforma neste perigoso ciclo.
Uma das coisas que eu acho que nós temos de pensar é porquê e como entorpecemos. E não tem de ser só por vício. Quanto mais amedrontados estamos, mais vulneráveis estamos e mais amedrontados estamos. Mas há outro caminho, e eu vou deixar-vos com isto.
Eis o que descobri: Deixarmo-nos ser vistos, profundamente vistos, vulneravelmente vistos… amar com todo o nosso coração, mesmo que não haja garantias – e isso é mesmo difícil, e posso dizer-vos como mãe, é excruciantemente difícil -, praticar gratidão e alegria naqueles momentos de terror. Quando nos perguntamos “Consigo amar-te assim tanto? Consigo acreditar nisto apaixonadamente? Consigo ser tão intenso acerca disto?” somente ser capaz de parar e, em vez de catastrofizar o que pode acontecer, dizer “Estou apenas completamente agradecido, porque sentir esta vulnerabilidade significa que estou vivo.” E por último, que eu penso que é provavelmente o mais importante, acreditar que nós somos suficiente. Porque quando trabalhamos a partir de um sítio, eu acredito, em que diz “Eu sou suficiente”… então paramos de gritar e começamos a ouvir, tornamo-nos mais bondosos e gentis para com as pessoas que nos rodeiam, e tornamo-nos mais bondosos e gentis connosco próprios.
Isto é tudo o que tenho. Obrigada.”

Resumo do discurso “The power of vulnerability” por Brené Brown – discurso completo em: https://www.ted.com/talks/brene_brown_on_vulnerability/transcript?language=en


Pai, hoje peço-te que me dês força e coragem para ser vulnerável. Gostar das minhas imperfeições, não ter vergonha das minhas diferenças. Acima de tudo, perceber que é tudo isso que me torna bonita. Que eu seja capaz de me lembrar ao longo do dia: o que me envergonha? O que estou a esconder só para que gostem de mim? Obrigada por me relembrares que sou Tua filha e que, só por isso, sou digna de amor.

Um Pai Nosso como agradecimento deste Amor do Pai e da dignidade que nos foi concedida.

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