Para navegar num mundo de dispersão

“O Senhor Javé deu-me a capacidade de falar como discípulo, para que eu saiba ajudar os desanimados com uma palavra de coragem. Cada manhã Ele desperta os meus ouvidos para que eu possa ouvir como discípulo. O Senhor Javé abriu os meus ouvidos e eu não fiz resistência nem recuei. Apresentei as costas àqueles que me queriam bater e ofereci o queixo aos que me queriam arrancar a barba, e nem escondi o meu rosto aos insultos e escarros. O Senhor Javé ajuda-me, por isso não me sinto humilhado; endureço o meu rosto como pedra, porque sei que não vou sentir-me fracassado. Ao meu lado está Aquele que me defende; quem vai contender comigo? Vamos juntos ao tribunal! Quem abriu um processo contra mim? Que venha enfrentar-me! Vede! O Senhor Javé vem em meu auxílio, quem ousará condenar-me? Pois todos se desgastarão como roupa velha, roída pela traça.”
Is 50, 4-9
É muito interessante que a Igreja nos proponha a meio da semana santa esta leitura de Isaías. Penso que procura recordar uma leitura que ajudaria Jesus a viver e a preparar o seu coração para o que ia viver.
Queria salientar desta leitura não a parte mais conhecida que reproduz cenas de sofrimento da paixão mas antes o tesouro onde Jesus carregava baterias para os “combates” espirituais – a oração. “Cada manhã Ele desperta os meus ouvidos para que eu possa ouvir como discípulo”.
Tal como nós Jesus esteve no mundo (“Como tu me enviaste ao mundo também eu os enviei ao mundo” Jo 17, 18) e experimentou as dificuldades que
sentimos diariamente – os estímulos contrários, a dispersão, o stress e a correria, a superficialidade, o constante desvio em relação à rota que pretendíamos e a necessidade de voltar ao caminho.
Para Ele e também para nós a oração pode ser a única forma de nos mantermos à tona – em cima do barco, de conseguir resistir nos momentos de sofrimentos, de duvida, de fracasso, de fraqueza. No entanto sabemos bem como é difícil permanecer, viver uma atitude orante, escutar Deus cada manhã. Partilho alguns aspectos que me têm ajudado numa vida de oração:
1. fidelidade a um tempo de oração com a Palavra, que pode ser muito breve e para o qual temos vários recursos até de multimédia – www.passo-a-rezar.net; www.pray-as-you-go.org; etc.
2. momentos breves de oração ao longo do dia, por vezes apenas breves segundos para pedir ajuda para alguma situação, ou antes das refeições
3. explorar esse filão que é desejar estar com Jesus, desejar rezar, desejar união
4. tentar não alcançar um grau de dispersão tão grande que até impeça a vontade de rezar
5. adaptar a forma de estar com Deus ao estado físico, mental e até espiritual: ler um livro em vez de rezar, recitar orações feitas, cantar, ouvir musica, etc.
6. e por fim a mais importante, orar unido ao essencial – á vocação, á chamada que experimentamos de Deus – tu nos enviaste ao mundo, mas não somos do mundo; enviados para quê? Qual é a nossa missão, a missão que Deus nos confia?

Os comentários estão encerrados.