Providência

“Não relembreis coisas passadas”
Isaias 43, 18-19

O desafio da fé é viver no presente.

 

Nós não podemos nem conseguimos viver de uma experiência passada. Nós estamos feitos para o presente. Nunca vos aconteceu estar com uma pessoa mais velha que vos relatava as facanhas do passado com uma nostalgia que vocês entendiam que aquela pessoa já não era feliz e a sua auto-estima vinha do passado?

Encontramos na Bíblia esta interpelação: “não olheis mais para as coisas do passado”. Pensar que umas pistas mensais ou semanais ou mesmo uma oração diária nos bastam para o dia, é um engano. Temos de continuamente buscar a Deus nas coisas.

Uma vida contemplativa não é marcar 2 ou 3 momentos para encher os reservatórios como o camelo. A alma não tem bossas, é como o corpo – tem de se estar sempre a bombar o sangue. O caminho é tentar progressivamente aproveitar os momentos todos para os referenciar a Deus sempre que é possível: um atraso de alguém, um momento na fila, um acontecimento que nos revela a nossa pobreza ou a dos outros, uma criança nos braços da mãe, uma exposição. Tudo são oportunidades de contemplar.

A oração matinal diária mete a primeira para arrancar o carro, mas depois é preciso continuar a acelerar aos bocadinhos ao longo do dia, senão o carro não anda.

E Deus providencia? Claro que sim.

Por isso é que se conseguem as coisas. Nós não resolvemos nada sozinhos.

Também ajuda pensar. Descobrir onde está deus a cada momento tem um lado detetivesco, é um projeto de investigação. Se o nosso mundo se empregasse mais a descobrir onde está o bem não tinha de empregar-se tanto a descobrir onde está o mal.

Perguntemos pois ao Senhor:

“Onde Senhor, posso encontrar-te?”

Se um treinador nos chama para a sua equipa depois não nos abandona. Dá indicações para dentro do campo e convoca-nos para os treinos (encontros da comunidade).

Com Deus é igual. Se Deus te chama, ele vai-te dar os meios, senão seria um absurdo. Se não escutas a sua voz é porque não tiras tempo, disponibilidade ou atenção para o ouvir. Não duvidemos. Deus fala.

A felicidade é quando diante de uma fila grande no supermercado ou seja onde fôr, tu decides contemplar em vez de stressar, agradeces a Deus a vida que tens, aproveitas esse tempo para fazer algo útil como orar um pouco, em vez de o desperdiçar, e ao passar na caixa és capaz de deixar um sorriso à pessoa que lá está. A vida não se decide nos grandes centros de decisão, decide-se nos pequenos centros de decisão, como nestes momentos de espera, que são um tempo para sintonizar com Deus.

A felicidade não é teres o que queres, o que planeaste, é quereres o que tens, é quereres aquele momento de espera, é aproveitá-lo porque te foi dado.

Nós recebemos prendas a todo o momento que não aproveitamos, porque não as reconhecemos, porque não vêm com um embrulho que as torne evidentes. Os embrulhos são para as crianças. Nós os adultos temos de aprender a ver, a reconhecer.

O Senhor é, e nós temos de ser, como o amolador. Quando chegamos a um sítio, nos nossos ambientes, não vamos aborrecer as pessoas uma a uma – nós damos apenas a música da nossa paz e alegria, do brilho do nosso olhar. A música do amolador é suave, não é como uma discoteca, e todos a reconhecem, tal como reconhecerão que em nós há paz se a tivermos.

Quem escutar a música pode então pedir-nos as razões da nossa fé, para que também consiga ‘afiar’ a sua vida enferrujada. E nós então tentamos ajudar.

Estava uma ambulância grande parada em segunda fila na minha rua. Parecia-me que o meu carro não tinha espaço para passar. E acumulou-se uma fila atrás de mim. Saí então do carro e com a perspectiva da distância pensei que talvez pudesse arriscar. Recolhi os espelhos e a medo lá passei. Atrás de mim vieram todos os outros e entendi isto à luz da fé: por nós às vezes estamos bem como estamos, mas pelos outros vale a pena arriscar. E a verdade é que se nós passarmos os obstáculos, muitos nos seguirão. Se o primeiro passa os que vêm atrás também passam.

Ajuda-nos Senhor a ver onde te fazes presente, onde nos chamas no nosso d

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