“A tua luz brilhará na tua escuridão”

O jejum que me agrada é este:
libertar os que foram presos injustamente,
livrá-los do jugo que levam às costas,
pôr em liberdade os oprimidos,
quebrar toda a espécie de opressão,
repartir o teu pão com os esfomeados,
dar abrigo aos infelizes sem casa,
atender e vestir os nus e não desprezar o teu irmão.
Então, a tua luz surgirá como a aurora,
e as tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se.
A tua justiça irá à tua frente,
e a glória do Senhor atrás de ti.
Então invocarás o Senhor e Ele te atenderá,
pedirás auxílio e te dirá: «Aqui estou!»
Se retirares da tua vida toda a opressão,
o gesto ameaçador e o falar ofensivo,
se repartires o teu pão com o faminto
e matares a fome ao pobre,
a tua luz brilhará na tua escuridão,
e as tuas trevas tornar-se-ão como o meio-dia.
Is 58,6-10
O Senhor diz: ‘Se repartires o teu pão com os esfomeados, deres abrigo aos infelizes sem casa, atenderes e vestires os nus e não desprezares o teu irmão, então, a tua luz surgirá como a aurora, e as tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se.’
Quando o Senhor fala, tudo parece tão simples! Parece uma receita simples de felicidade, de, como ontem nos diziam, conseguirmos atingir a plenitude! Realmente, se calhar, é bastante simples e linear – se calhar somos nós que complicamos o que é simples, porque deixamos que complexos, preconceitos, o orgulho e um egoismo generalizado nos afastem dos outros, das pessoas, dos nossos irmãos. Se conseguíssemos ver o mundo da forma
simples como Deus o vê: um Universo em que todos somos irmãos, em que todos somos uma Família, então se calhar toda a lógica do nosso comportamento mudaria! Se o outro é meu irmão, então como é que eu consigo ir para a minha casa quentinha jantar, enquanto ele está ao relento e com fome?
O Senhor diz: ‘Se retirares da tua vida toda a opressão, o gesto ameaçador e o falar ofensivo, a tua luz brilhará na tua escuridão, e as tuas trevas tornar-se-ão como o meio-dia.’ 
Não seria o Universo e a nossa vida muito mais harmoniosos se retirássemos a opressão, a injustiça, a agressividade, as ofensas? 
O que me parece curioso é que o Senhor diz: ‘a tua luz brilhará na tua escuridão’ – e não diz ‘a Minha luz brilhará na tua escuridão’. O Senhor diz-nos estas palavras desta forma porque realmente a Sua Luz, o Seu Amor, o Seu Espírito já estão no nosso coração. Ele já derramou nas nossas vidas o potencial de amar, de partilhar, de ter misericórdia e se o soubermos deixar transparecer e sair, esse lado bom, da Luz, falará mais alto e iluminará o que está escuro e em trevas no nosso coração.
Na realidade é importante termos noção que tudo não passa de um jogo de equilíbrio entre o bem e o mal, a luz e as trevas, a união e a divisão, o amor e o ódio – no nosso coração temos ambas as potencialidades: de construir ou de destruir! A escolha é nossa e só está nas nossas mãos: quero amar, entregar, preocupar-me com os outros que são meus irmãos? Se for essa a minha escolha posso ter a certeza de que a Luz de Deus iluminará o meu coração. 
A Quaresma é feita de escolhas, todos os dias da nossa vida são feitos de escolhas e estamos constantemente perante cruzamentos: só está nas nossas mãos escolher o caminho da união, do bem, da luz, do Amor – porque aí encontraremos a Deus, aí encontraremos a plenitude. 
Está nas nossas mãos.

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