“Prometo amar-te …”

Jesus foi para o monte das Oliveiras. Ao amanhecer, voltou ao Templo e todo o povo ia ao seu encontro. Então Jesus sentou-Se e começou a ensinar. Chegaram os doutores da Lei e os fariseus com uma mulher que tinha sido apanhada a cometer adultério. Colocaram a mulher no meio e disseram a Jesus: «Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante a cometer adultério. A lei de Moisés manda que estas mulheres devem ser apedrejadas. E Tu, que dizes?» Eles diziam isto para pôr Jesus à prova e terem um motivo para O acusar. Então Jesus inclinou-Se e começou a escrever no chão com o dedo. Os doutores da Lei e os fariseus continuaram a insistir na pergunta. Então Jesus levantou-Se e disse: «Quem de vós não tiver pecado, atire-lhe a primeira pedra». E, inclinando-Se de novo, continuou a escrever no chão. Ouvindo isto, eles foram saindo um a um, começando pelos mais velhos. E Jesus ficou sozinho. Ora, a mulher continuava ali no meio. Jesus então levantou-Se e perguntou: «Mulher, onde estão os outros? Ninguém te condenou?» Ela respondeu: «Ninguém, Senhor». Então Jesus disse: «Eu também não te condeno. Podes ir, e não voltes a pecar».
Jo 8

Esta leitura ajuda-me a descobrir uma forma diferente de acolher o outro quando não corresponde às minhas expectativas, quando não é como eu desejava, quando não é perfeito. Muitas vezes as questões no casamento não são grandes faltas ao amor são pequenos desencontros diários motivados pela diferença: ele não me compreende … não pergunta o que estou a viver; não olha para mim – não está atento a mim … não faz aquilo que combinamos para os filhos;  Como é que Jesus acolhe e ama a pecadora?  Aceita o pecado sem atacar a pessoa. A Lei judaica era criticar o ato e atacar a pessoa – no seu corpo, apedrejando até à morte. Jesus não ataca a pessoa – acolhe-a e perdoa sem deixar de criticar a atitude “não voltes a pecar” – porque o melhor para aquela mulher era agir de outra forma.

Não sabemos se a pecadora não voltou a recair mas acredito que Jesus voltaria a fazer o mesmo porque a sua resposta para com aquela situação teria de ser coerentemente a mesma – “se alguém nunca pecou que atire a primeira pedra”. Só as atitudes podem ser criticadas – as pessoas não porque sempre têm valor e são mais do que os seus actos. Uma regra básica da gestão de pessoas é criticar os actos e não as pessoas. Nós somos assim – não queremos mas voltamos a recair, voltamos a cometer os mesmos erros. Por isso é tão importante aceitar o outro e acolher. Criticar os gestos mas não a pessoa porque ela precisa de ser motivada a não recair.

Na leitura parece que a mulher concorda com Jesus que errou e tem de mudar. Mas e quando o outro não entende que tem de mudar? Primeiro não esquecer que o outro não tem de mudar porque eu acho – ele não tem de ser á minha medida. Depois quem sou eu para saber o que é melhor para a sua vida? Só mesmo Deus conhece todas as dimensões, todos os detalhes para concluir o que tem de mudar. O outro pode também não conseguir mudar. Querer e não conseguir. Também temos muitas dificuldades em nos abrirmos aquilo que não é como eu vejo, que não pensa como eu, que não sente como eu sinto. Os fariseus não conseguiam ver o outro de um novo modo, nem se abriam a outra forma de pensar – só a inteligência de Jesus os fez entender de outra forma. Aqueles que estavam ali naquela manhã provavelmente perceberam o que Jesus queria transmitir pois pela sua clareza e inteligência colocou-os a pensar “fora da caixa” (que era a sua Lei). Acho que o Papa Francisco também está a fazer a Igreja pensar “fora da caixa” das suas regras e tradições…

Há também uma dimensão de respeito pela autonomia do outro que temos de rezar muito nas relações – Jesus acolheu, aceitou, amou. Deu uma orientação, uma recomendação e depois deixou que a mulher seguisse o seu próprio rumo, decidisse. Não ficou enfadado por ela não dar o seu consentimento, não repetiu até à exaustão os seus conselhos, não fez ameaças, chantagem; não ditou moralismos de porquê não fazer aquilo… Tudo coisas que nas relações fazemos muitas vezes.

Mas como conseguimos fazer isto? Parece impossível. É mais forte do que nós… E é  de facto mais forte do que a natureza humana – por isso precisamos de Deus.

Em 1 Jo 4, 19 e seguintes João diz: “Amamos, porque Ele nos amou primeiro”. Sim conseguimos se procuramos a fonte do Amor.

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