Quanto custa um pôr-do-sol?

“Deus Todo-Poderoso, de quem procede a bondade e a beleza de toda a criação, fazei que comecemos este dia alegremente...”


Um dia, quando orava, deparei-me com esta oração, que estava na Liturgia das Horas.

Pensei que, efectivamente, a beleza da criação é evidente. As diferentes cores da natureza. O verde, o rosa, o azul, o lilás, o vermelho das papoilas… Os diferentes verdes, os diferentes azuis… E, inclusivamente, as diferentes formas e os diferentes desenhos da criação… A beleza é evidente.

Mas, e a bondade? Dei por mim a olhar o sol: dia após dia ele dá-nos luz e calor. E o que nos cobra? Absolutamente nada. Nós acendemos a luz eléctrica algumas horas durante a noite e pagamos uma conta no fim do mês. Se tivéssemos de viver todo o dia, todos os dias, com a luz eléctrica ligada, quanto pagaríamos no fim do mês? 
Há dias li uma história de um empresário dos Estados Unidos que, em Roma, quis mostrar ao seu filho o pôr-do-sol e este perguntou-lhe: “Pai, onde é que se paga?”. Ou seja, noutras palavras: “Quanto custa um pôr-de-sol?” Esta pergunta revela com clareza a estrutura da sociedade onde vivemos, assente sobre a economia de mercado. Nela tudo se paga, tudo se consome, tudo é objecto de compra e venda. Até um pôr-do-sol. Mas também as pessoas, a amizade, às vezes até as relações de família, com os filhos… Tudo se transformou numa transacção comercial… Tudo tem um valor económico e, se não o tem, não tem qualquer valor. 
Isto fala-nos de pobreza, de esvaziamento, da falta de sentido com que vivemos a nossa vida, envolvidos numa cultura que só olha à oportunidade de lucro.

Com tudo isto gostava de chamar a atenção para duas coisas: 
1 – Não há dinheiro que pague um pôr-do-sol, nem a luz e o calor que ele nos dá a cada dia. As flores não cobram nada para embelezar as nossas casas e os nossos jardins: Que dinheiro pode pagar a ternura e a dedicação de uma mãe? Se vivermos na lógica do interesse, e não na da gratuitidade, concerteza viveremos uma vida asfixiada e estrangulada, porque nada nos sacia. A lógica da criação, que é a lógica de Deus, é exactamente a lógica da gratuitidade e da bondade. 
2 – Qual é a nossa relação com a natureza? Vivemos, realmente, conscientes da inter-relação e da inter-dependência com a natureza? Tentamos educar-nos, pessoal e socialmente, para cuidar da natureza? Somos responsáveis pela sobrevivência da criação e da natureza e, portanto, da nossa própria sobrevivência! Temos de nos educar na consciência ecológica, de respeito pela criação!

Os comentários estão encerrados.