Que Lázaros temos hoje à nossa porta?

“Naquele tempo, disse Jesus aos fariseus: «Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e fazia todos os dias esplêndidos banquetes. Um pobre, chamado Lázaro, jazia ao seu portão, coberto de chagas. Bem desejava ele saciar-se com o que caía da mesa do rico; mas eram os cães que vinham lamber-lhe as chagas. Ora, o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. Na morada dos mortos, achando-se em tormentos, ergueu os olhos e viu, de longe, Abraão e também Lázaro no seu seio. Então, ergueu a voz e disse: ‘Pai Abraão, tem misericórdia de mim e envia Lázaro para molhar em água a ponta de um dedo e refrescar-me a língua, porque estou atormentado nestas chamas.’ Abraão respondeu-lhe: ‘Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em vida, enquanto Lázaro recebeu somente males. Agora, ele é consolado, enquanto tu és atormentado. Além disso, entre nós e vós há um grande abismo, de modo que, se alguém pretendesse passar daqui para junto de vós, não poderia fazê-lo, nem tão pouco vir daí para junto de nós.’ O rico insistiu: ‘Peço-te, pai Abraão, que envies Lázaro à casa do meu pai, pois tenho cinco irmãos; que os previna, a fim de que não venham também para este lugar de tormento.’ Disse lhe Abraão: ‘Têm Moisés e os Profetas; que os oiçam!’ Replicou-lhe ele: ‘Não, pai Abraão; se algum dos mortos for ter com eles, hão-de arrepender-se.’ Abraão respondeu-lhe: ‘Se não dão ouvidos a Moisés e aos Profetas, tão-pouco se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dentre os mortos.’»”
Evangelho segundo S. Lucas 16,19-31.

Pode parece à primeira vista que é Deus que castiga o rico pela sua indiferença. Não creio. Viver fechado em mim próprio cava um fosso que se vai tornando cada vez mais fundo.

Que Lázaros temos hoje à nossa porta? No tempo de Jesus, o cidadão comum não tinha voz política, não conseguia influenciar as políticas dos reis. Hoje não é assim! A nossa responsabilidade não termina com a ajuda ao Lázaro que encontramos no caminho. Temos de contribuir para uma sociedade que não gere mais Lázaros.

Se antigamente era difícil construir uma consciência política, hoje não é,  não faltam meios para nos formarmos e informarmos.

O Papa referiu recentemente que a actividade política é das mais belas em que o cristão se pode empenhar. Todavia refiro-me a um estágio anterior, o de formarmos a nossa consciência política: quais são os pilares da democracia? Que justiça queremos? Como criar uma sociedade mais justa? Como evoluir para o exercício de uma cidadania mais plena e participativa?

E se nem todos estamos chamados a exercer cargos políticos,  todos podemos formar-nos.

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