Viver o sofrimento à luz da fé.

Leituras:  
Poderá um homem nascer de  novo? – João 3, 1-11
Todavia, não seja como Eu quero, mas como Tu queres – Mt 26, 39
A mim a vida ninguém ma tira, sou eu que a dou por mim próprio – João 10, 17-18
Vinde a mim os cansados e os oprimidos – Mt 11, 28-30

 

Somos livres de pensar que o sofrimento não é por causa da crise, das tragédias, das injustiças, mas que são simplesmente as dores do parto. Porque é preciso nascer de novo (Nicodemos). E haverá maior alegria, maior sentido para o sofrimento do que um parto?

Mas como vivê-lo? Só há uma maneira: Outsourcing.

Outsourcing é o caminho. Graças àqueles que, vendo que não tinham meios, fizeram outsourcing, entregando as comunidades e os seus sofrimentos nas mãos de Deus, podemos hoje estar aqui. Estamos convidados a fazer o mesmo com os nossos sofrimentos. Deste assunto não percebemos nada.

O sofrimento vem de já sabermos tão bem aquilo que queremos. É comum ouvir as pessoas dizer “Aos  trinta quero estar assim…” Com este trabalho, com este aspecto. Pois Jesus ensina exatamente o contrário. Ele não queria estar aos 33 numa cruz. E no entanto é o nosso modelo de sucesso. Ele descobria o que queria com o Pai, não fazia nenhuma ideia de como ia ser amanhã, quanto mais daí a uns anos. (“Todavia, não seja como Eu quero, mas como Tu queres..”)

O sofrimento não é quando em 100 batalhas pelo bem perdemos 99 e continuamos a lutar. O sofrimento é quando ganhamos 99 e à primeira que perdemos desistimos e dizemos afinal o mal não é mal, é bem, faltando à verdade porque não suportamos o falhanço, e desistimos de lutar.

Para a cura disto é preciso espeleologia. O sofrimento está nas profundidades do nosso coração, e Deus aí consegue ir sempre mais fundo e curar. Como o poço que tinha raízes a penetrar no fundo e que lhe roubavam a água – foi preciso um espeleólogo ir ao  fundo para resolver. Deus é espeleólogo. Se o deixarmos ir lá, o amor Dele sobre as causas do nosso sofrimento cura tudo.

Há duas qualidades de sofrimento: o bom e o mau. Depende da ordem em que aparece na vida: O mau é o que é consequência. O bom é o que é causa. “A mim a vida ninguém ma tira, sou eu que a dou por mim próprio” – Este sofrimento é causa, causa de vida, e dá muito fruto. Agora se eu penso “a mim a vida ninguém ma dá, sou eu que a vivo por mim próprio”, com esta atitude o sofrimento é consequência em vez de causa.

O grande segredo para viver o sofrimento é a prevenção: Viver em função de causas e não de consequências: Viver por uma intencionalidade e não em função de uns resultados, que nunca sabemos quais serão. O senhor não é meritocrata (parábola dos trabalhadores da vinha). O que lhe interessa é o que está no teu coração, o que move a tua vida. A vida vale a pena mesmo quando o Benfica perde.

Se procurarmos a Deus, se aceitarmos alguns pequenos sofrimentos para o seguir, vamos viver felizes e em paz, e o sofrimento, quando entrar na nossa vida, não conseguirá vencer a nossa aliança com Deus. Apenas nos tornará mais fortes. Quando estamos com Deus, quando lhe damos o primeiro lugar na nossa vida, o sofrimento é a ocasião de recuperarmos a consciência do amor de Deus, que transforma a nossa fragilidade em fortaleza.

Viver o sofrimento no  trabalho? É como as velhinhas a fazer croché enquanto vêm a missa – trabalhar, mas com os olhos fixos no Senhor.

Decidir para não sofrer: O que fazer? Farei isto ou aquilo? Vou por aqui ou por ali? Como sei se um grande projeto da minha vida vale a pena: será que vai dar fruto?

A resposta está numa  música do Jorge Palma (“dá-me lume”): “Com esse teu passo inseguro e o paraíso no teu olhar” Porque a felicidade não está em PARA ONDE VAMOS – aí somos inseguros, mas em COM QUEM VAMOS –  o paraíso de SABER que temos Deus connosco. Um retiro ajuda: revemos as grandes opções, decidimos por onde vamos em diálogo com Deus.

A barriga de que não gosto, é a base sobre a qual faço oração. Porque como sei que sou pobre, que estou vazio por dentro, em mim há lugar para o amor de Deus. A minha barriga, símbolo da minha pobreza, é a base sobre a qual assento as mãos para orar.

Quando sofremos no trabalho, porque nos sentimos desvalorizados, ou porque não podemos usar os nossos talentos, ou porque temos de obedecer a quem não queremos, voltamo-nos para Deus e sabem o que Ele nos diz?

Filha(o), o meu amor não chega? Toma lá o meu amor. Experimenta. Achas que não é o suficiente? (“Vinde a mim os cansados e oprimidos”)

Nós sofremos às vezes por causa da rotina. Mas pode acontecer-nos o mesmo que a uma personagem de um filme “A rosa púrpura do Cairo” do Woody Allen – a personagem saiu da sua vida de rotina para entrar dentro de um filme que via e tornar-se protagonista de uma grande história de amor – O Senhor quer entrar na nossa vida desta maneira, tal como entrou na dos discípulos.

Ajuda-nos Senhor a arriscar dar-te na nossa vida o papel principal.

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