Olá, Senhor. Volto a escrever-te, a falar contigo desta forma intencional e mais permanente. Permanente porque as palavras não se perdem mal deixam de ser pensamento. Talvez por culpa da quantidade de palavras e imagens que entram nos meus olhos, a oração passa na mente e acaba sabe-se lá onde. Escrevendo, no papel, no computador ou no smartphone consigo parar no que te quero dizer e a passar daí para a tua Palavra, hoje trazida por São Mateus.
Evangelho de S. Mateus 22, 15-21:
Naquele tempo, os fariseus reuniram-se para deliberar sobre a maneira de surpreender Jesus no que dissesse. Enviaram-Lhe alguns dos seus discípulos, juntamente com os herodianos, e disseram-Lhe: «Mestre, sabemos que és sincero e que ensinas, segundo a verdade, o caminho de Deus, sem te deixares influenciar por ninguém, pois não fazes acepção de pessoas. Diz-nos o teu parecer: É lícito ou não pagar tributo a César?». Jesus, conhecendo a sua malícia, respondeu: «Porque Me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo». Eles apresentaram-Lhe um denário e Jesus perguntou: «De quem é esta imagem e esta inscrição?». Eles responderam: «De César». Disse-Lhes Jesus: «Então, dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus».
O centro deste Evangelho é a resposta de Jesus, mas uma segunda ou terceira leitura mostram outros detalhes. Os fariseus e herodianos, uma aliança de religiosos e políticos, reuniram-se para apanhar Jesus em falso. Quer dizer que se encontraram, debateram, fizeram um brainstorming e esta ideia de meter a política pelo meio ganhou. Em vez de irem pessoalmente, enviaram os discípulos. Não esconderam quem estava por trás do ataque mas não apareceram directamente. Um terceiro detalhe: o ataque começa com um elogio que vale a pena ler com cuidado: “Mestre, sabemos que és sincero e que ensinas, segundo a verdade, o caminho de Deus, sem te deixares influenciar por ninguém, pois não fazes acepção de pessoas.”
Agora a questão, “Devemos pagar tributo a César?”. Não sei o que sentia Jesus relativamente à ocupação romana, mas não se empenhou na libertação política dos Judeus. Talvez porque se sentia mais filho de Deus que judeu ou romano. Talvez soubesse que naquela guerra não havia vencedores. Talvez tivesse consciência do seu papel como líder religioso, e não quisesse tornar-se instantaneamente em líder político. Medo dos fariseus ou dos herodianos, não tinha, como se viu passado pouco tempo.
Mais do que política local do tempo específico em que Jesus viveu, a resposta de Jesus tem vida para mim hoje: “A César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Se é em Deus que vivo e respiro, se é de Deus que venho e vou, Deus diz respeito a todos os ângulos da minha vida. Logo, Jesus não está a vedar uma parte da minha vida à intervenção de Deus. Não é fácil tirar conclusões!
Dou por mim a pensar quantas vezes me meto em esquemas de vida tortuosos e depois peço a Jesus que me indique uma maneira de prevalecer, mas dentro do meu esquema, tal como os herodianos, que trabalhavam com o rei nomeado pelos romanos? Se tenho alguém contra mim peço a Deus que me ajude a vencer o conflito, se tenho opositores, que me faça “justiça”. Também aqui Jesus me diz “A Deus o que é de Deus”. Posso traduzir esta expressão como “limpa o teu coração e descobre a verdadeira vontade de Deus, deixa-te de esquemas”.
Senhor, ajuda-me a sair dos meus caminhos, mostra-me a tua Palavra, que me mostra com clareza as lutas verdadeiras e me dá força para as travar.