Jesus disse-lhe: «Há tanto tempo que estou convosco, e não me ficaste a conhecer, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como é que me dizes, então, ‘mostra-nos o Pai’? Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em mim? As coisas que Eu vos digo não as manifesto por mim mesmo: é o Pai, que, estando em Mim, realiza as suas obras. Crede-me: Eu estou no Pai e o Pai está em mim; crede, ao menos, por causa dessas mesmas obras. Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim também fará as obras que Eu realizo; e fará obras maiores do que estas.
Jo 14, 9-12
Quando rezo esta passagem do Evangelho intuo que não capto realmente o que Jesus quer dizer. Imediatamente penso que Jesus diz isto pelo facto de ser filho de Deus, pela sua condição divina. Mas depois, penso que também Jesus forjou o seu próprio caminho de fé, a sua própria relação com Deus. Jesus investiu de tal forma nesta relação que a intimidade que criou com Deus lhe permitiu sentir-se e experimentar-se como filho.
Jesus levava Deus a sério. Deus não era para ele apenas um porto seguro, um pai amoroso. Era também aquele que o guiava nos seus discernimentos, nas suas opções de vida e no seu comportamento para com os outros.
Esta relação de intimidade e proximidade permitiu a Jesus tomar consciência da presença de Deus na sua vida e no mundo. Esta consciência da presença de Deus permitiu que Jesus se configurasse como o Pai. Intuo que é por isso que Ele diz: “Quem me vê, vê o Pai”. E é também por isso que afirma: “Quem crê em mim também fará as obras que Eu realizo; e fará obras maiores do que estas.”
Como seria se vivesse a vida sempre com a consciência desta Presença próxima, deste Deus que está em mim e em cada um de nós…? Penso em quantas angustias que deixaria de sentir, em quantos preconceitos que ficariam para trás e em tantas atitudes que não teria….
Sinto como grande desafio este de viver na consciência desta presença de Deus, intuo que é esta consciência que pode fazer a diferença na minha vida e por consequência tocar a vida de tantos.
E para mim, quem é Deus? Que lugar tem na minha vida? É somente aquele a quem presto culto ao Domingo, o meu porto seguro na hora da aflição e do sofrimento? É só Aquele a quem dou graças pelas “coisas” boas que me acontecem?
Vou fazendo caminho no sentido de perceber que Deus quer ter comigo uma relação que vai transformando de fundo o meu comportamento, as minhas escolhas, os meus juízos? Que relação é que eu estou disposto a ter com Ele?