A ARTE DE AMAR – DA TEORIA À PRÁTICA

“O amor é uma arte? Então requer conhecimento e esforço.” 
Erich Fromm

“A prática de qualquer arte exige:

• Disciplina: nunca serei bom naquilo que faço que se o fizer só quando “me apetece”. Um passatempo nunca será uma arte que eu domine. Na cultura ocidental a disciplina é vista como uma coisa que “só faz bem” porque é desagradável. Deve sim ser uma expressão da nossa vontade e associada a um tipo de comportamento que não gostaria de deixar de ter.

• Concentração: na nossa cultura atual produz um modo de vida desconcertado – podemos fazer as mais diversas coisas ao mesmo tempo, e a nossa falta de concentração é evidente na nossa incapacidade de suportar a solidão (emerge o nervosismo e a ansiedade). Concentrar-se significa:

– Ser capaz de estar sozinho consigo mesmo, e esta é uma pré-condição para a capacidade de amar. Se me ligo a outra pessoa porque não sou capaz de ser autónomo, ainda que essa pessoa seja essencial para mim, a nossa relação nunca será de amor;

– Dedicar-me inteiramente ao que faço num determinado momento, sem que nada me distraia;

– Ouvir (na relação com os outros);

– Viver intensamente o aqui e agora, sem pensar no que vou fazer a seguir;

– Cultivar a sensibilidade de si (somos sensíveis ao nosso estado físico mas não tanto ao mental ou aos nossos processos mentais)

• Paciência: o Homem moderno pensa que se não fizer algo rapidamente estará a perder tempo. A lógica baseia-se na rapidez e nos resultados e dita que o que é bom para as máquinas também deve ser bom para os homens.

• Preocupação extrema: se a arte não for de suma importância, o aprendiz será na melhor das hipóteses um amador, mas nunca um mestre.

Mas para praticar o amor ainda é preciso…

• Objetividade: capacidade de ver as coisas como elas são, e de separar esta imagem daquela que é formada pelos nossos medos e desejos. Trata-se de ultrapassar o narcisismo. Um louco é incapaz de ter uma visão objetiva da realidade exterior, mas todos nós temos uma visão distorcida da realidade (exemplos: só ver as minhas “urgências”, dar mais valor ao meu tempo do que ao do outro, comparar o outro ao “príncipe encantado”, estereótipos)

• Humildade: amar implica o desenvolvimento da humildade. Humildade com o outro e com todos à minha volta.

• Fé:

– Ter “fé” noutra pessoa significa ter a certeza que as suas atitudes fundamentais, a sua personalidade e o seu amor são fiáveis e imutáveis; que pode mudar de opinião, mas que as suas convicções de base serão as mesmas; que o respeito que tem pela vida e pela dignidade humana faz parte integrante de si e não está sujeito a mudanças.

– Por analogia, se não tivermos fé na persistência do “eu”, a nossa sensação de identidade é ameaçada e passamos a depender da aprovação de outras pessoas para dar fundamento à nossa sensação de identidade. Só que tem fé em si mesmo é fiel aos outros, porque tem a certeza de que amanhã é aquilo que é hoje.

– Ter fé requer coragem, a capacidade de correr riscos e de aceitar a dor e a desilusão. Quem se isola num sistema de defesa e na segurança de possessividade, transforma-se num prisioneiro.

– Quem não tem esta fé básica tende a preocupar-se excessivamente, a suspeitar de tudo e de todos, a ser incapaz de se aproximar dos outros.

– Quem vive sem fé tem, conscientemente, medo de não ser amado. Mas na verdade, aquilo de que realmente tem medo é de amar.”

Resumo do livro A Arte de Amar – Erich Fromm, Pergaminho

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