Caríssimos irmãos,
Já que a Quaresma é tempo, por excelência, de conversão, as leituras que acabamos de ouvir apelam à conversão. A vida difícil levada pelos israelitas no exílio condu-los à revolta contra Deus. Acusam-No de injusto e causa de todo o seu sofrimento. Exactamente como acontece com qualquer pessoa de qualquer época histórica quando cai na desgraça, os israelitas pensam também que Deus os abandonou e não fazem esforço nenhum para se emendar das suas faltas. Diante deste cenário o profeta Ezequiel insurge-se e diz que Deus não quer o sofrimento de ninguém. Aquilo que devem fazer é converter-se. “Convertei-vos e vivereis – diz o Senhor”. Não admite lançar culpa a terceiros e, muito menos, a Deus. Converter-se significa também darmos um novo rumo à maneira como olhamos os nossos irmãos, especialmente aqueles que nos fizeram Mal e que precisamos de perdoar, diz Jesus no Santo Evangelho.
Jesus é taxativo e exigente com cada um de nós. Ou perdoamos o irmão e abraçamos o caminho da conversão ou odiamos e permanecemos no nosso pecado. Não adianta nada ir ao altar do Senhor, fazer a nossa oferta, sabendo que o nosso irmão tem alguma coisa contra nós. Interessante. Jesus não diz que não adianta ir ao altar sabendo que tens alguma coisa contra o teu irmão. Jesus diz que não adianta ires ao altar se souberes que algum teu irmão tem alguma coisa contra ti.
Caríssimos irmãos, quantas pessoas arrastam a sua vida, vivem tristes, deprimidas, sem saber o que fazer… Muitas, inclusive, desenvolvem doenças físicas, emocionais, psicológicas, espirituais, por falta de perdão, por falta de amor. Por se sentirem culpadas e não perdoadas. A própria ciência explica que 80% das doenças são psicossomáticas. E eu diria que a grande maioria decorre da falta de perdão, da falta de amor.
Jesus exige-nos o perdão para que tenhamos vida. Quem não perdoa gera morte dentro de si, quem não perdoa auto-destrói-se. Mas para que possamos perdoar, precisamos de entender o que é que isso significa verdadeiramente. O perdão mão é um sentimento. O perdão é uma decisão! O perdão verdadeiro é dado não quando pensamos em perdoar ou sentimos que devemos perdoar, mas quando decidimos concedê-lo. Quando me proponho a perdoa, perdoo não porque a pessoa precisa ou merece o meu perdão, mas porque eu preciso de perdoar.
O ressentimento e a mágoa que temos em relação a uma pessoa é a mesma coisa que comprarmos um pacote de veneno para dar ao outro: nunca conseguiremos fazer com que este tome o veneno. Então nós mesmos passamos a tomar um por um, morrendo aos poucos de envenenamento e envenenando a vida dos outros.
Decidir perdoar alguém, é decidir promover o outro. E, na medida em que decido perdoar o outro, decido, consciente ou inconscientemente, amar-me a mim mesmo. Perdoar o outro é a única maneira de nos libertarmos e vivermos em paz connosco mesmos.
Caríssimos irmãos, a exigência de Jesus em que nos perdoemos não é por causa do outro, mas por causa de nós mesmos. Para que vivamos livres e saudáveis.