“Um homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e foi lá procurar frutos, mas não os encontrou. Disse ao encarregado da vinha: ‘Há três anos que venho procurar fruto nesta figueira e não o encontro. Corta-a; para que está ela a ocupar a terra?’ Mas ele respondeu: ‘Senhor, deixa-a mais este ano, para que eu possa escavar a terra em volta e deitar-lhe estrume. Se der frutos na próxima estação, ficará; senão, poderás cortá-la.”
Lucas 13,6-9
Identifiquei-me logo com esta leitura por estar a atravessar um período de “ausência de frutos”, em que a oração é mais difícil, e me é mais difícil compreender e identificar Deus na minha vida do dia-a-dia. No antigo testamento, figueira era o símbolo da bênção e do Amor especial de Deus.
E isto por variadíssimas razões mas, mais ou menos, as do costume:
1) o suceder de tarefas que se vão empilhando sem fim à vista;
2) o cansaço acumulado;
3) a minha incapacidade de Amar como gostaria (e já cheguei a Amar!);
4) o quão fraco sou por não conseguir ritmos de oração;
5) o medo que me dá da minha fragilidade: numa semana estou bem encaixado e a apreciar a presença de Deus na minha vida e, logo na outra, estou a sentir-me desmotivado e confuso demais para compreender o “para quê?”
6) a frustração das expectativas furadas, etc…
No entanto, o padre Thomas Keating relembra-nos muito graficamente no livro editado pela Verbum Dei (“O Reino de Deus é como…”), que o Deus de Jesus não intervém na nossa vida por magia e nós (eu) temos constantemente o desejo inconsciente de que estas razões desapareçam por obra e graça do Espírito Santo, literalmente. Jesus intervém em mim, não nas condições.
Isto é o resultado de uma mentalidade e cultura de mitos e Super-Heróis quer no cinema, como no desporto e nas diferentes áreas profissionais. Que nos está impregnada mas não faz sentido nenhum: “O fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade” (frase de um escritor Francês, Michel Montaigne).
Na parábola tocou-me então uma palavra de Jesus, pela sua ternura e realismo, que é a “próxima estação”. E senti o convite para eu ser mais paciente comigo mesmo e cultivar a Esperança em Deus, especialmente nestas “estações” em que não há frutos, só há crises, vazio, confusão, etc. E vi que Jesus também conhece a nossa impaciência e desespero nestas situações porque também experimentou o sentimento alternativo do “corta”, mas não optou por esse caminho mas sim sempre pelo da confiança.
Para cultivar a Esperança temos que primeiro passar pela aceitação da nossa realidade de hoje. E aceitação não é o mesmo que resignação. É a condição em que estamos mas não a que nos define. Aqui senti também que Jesus me convidava a partilhar, a desabafar, a deixar formular e encaixar com Ele a minha realidade de hoje – que é o preparar a terra à volta da figueira. E experimentei, só por fazer isso, um estar mais próximo de Deus e uma maior relativização e um sentido mais grato de coração.
Mas Jesus convida-me, ainda, a ir mais fundo e adubar (pôr estrume!). Ou seja, a purificar o meu coração, a minha vontade, a minha mentalidade, o meu olhar, as minhas expectativas, o preenchimento dos meus afectos, etc., para me deixar ser amado e me unir a Deus Pai de todos.
Por isso, peçamos hoje do fundo do coração as vezes que forem, nas alturas que quisermos, que Jesus nos purifique o coração e nos dê humildade para nos sabermos entregar com confiança no Pai, pois: “A Firmeza de Jesus produz a nossa Esperança”.