Em tudo o que acontece encontro o Teu amor

“Então, uma cananeia, que viera daquela região, começou a gritar: «Senhor, Filho de David, tem misericórdia de mim! Minha filha está cruelmente atormentada por um demónio.» Mas Ele não lhe respondeu nem uma palavra. Os discípulos aproximaram-se e pediram-Lhe com insistência: “Despacha-a, porque ela persegue-nos com os seus gritos.”Jesus replicou: «Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.». Mas a mulher veio prostrar-se diante d´Ele, dizendo: «Socorre-me, Senhor.». Ele respondeu-lhe: «Não é justo que se tome o pão dos filhos para o lançar aos cachorros.». Retorquiu ela: «É verdade, Senhor, mas até os cachorros comem as migalhas que caem da mesa de seus donos.». Então, Jesus respondeu-lhe: «Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se como desejas.» E, a partir desse instante, a filha dela achou-se curada.”

 

Nesta leitura vemos como Deus altera o Seu projeto por causa da nossa oração – fé é relação mais que obediência.

A felicidade está na relação, e a relação activa-se pelo olhar.
A felicidade é quando encontramos um lugar seguro, um descanso sem limites para o nosso coração, porque sabemos que nada nem ninguém pode contra esse repouso.

A infelicidade é quando perdemos a paz porque alguém nos fez uns riscos insignificantes no carro. É quando alicerçamos a nossa auto-estima em coisas perecíveis, que substituem no nosso coração o lugar reservado para a consciência do amor de Deus.
Na garagem do nosso coração há um lugar reservado para o amor e nós vamos lá estacionar o nosso carro, ignorando a tabuleta.
Depois há alguém, uns miúdos irreverentes, que nos fazem o favor de riscar o carro, para que tiremos o carro dali – do nosso coração – e coloquemos a auto-estima noutra coisa, porque o carro já não é perfeito.
E nós que fazemos? Praguejamos contra os autores da patifaria. Como seria diferente a vida se conhecêssemos os seus mistérios. Agradeceríamos no nosso coração pela irreverência desses miúdos, porque como anjos, nos ajudaram a voltar ao essencial. Os miúdos não são ingénuos – eles vão arreliar em algo que, não sendo essencial, sabem que aborrece a pessoa. E nós, agradecemos e guardamos para a vida isto que a vida nos trás, esta ‘prenda’, ou praguejamos e vamos a correr retocar a pintura?

Como entendemos a entrega do Senhor pela humanidade? 
Focamo-nos na entrega? Ai, foi tão grande… Eu nunca conseguiria imitar ou estar à altura desta entrega, por isso isto não é para mim.
Ou focamo-nos nas razões da entrega? O cristão é aquele que aprofunda e contempla as razões profundas das coisas, e não só as concretizações. As concretizações só aparecem porque há razões profundas.
A entrega do Senhor foi e é maior que todas as coisas porque o amor do Senhor por nós é maior que todas as coisas.
Se a entrega te revela o amor e o entendes, estás salvo, mas se te revela a carga, ainda não entendeste. Como lês?

O Senhor pergunta “como lês?”
“Levantou-se, então, um doutor da Lei e perguntou-lhe, para o experimentar: «Mestre, que hei-de fazer para possuir a vida eterna?» Disse-lhe Jesus: «Que está escrito na Lei? Como lês?» O outro respondeu: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.» Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem; faz isso e viverás.»

Ninguém ama a Deus sem experimentar o Seu amor primeiro. Como lês?
O desafio é entender o amor de Deus e não comparar a nossa vida com as concretizações desse amor.
O Senhor não quer que deixemos de viver as coisas, e que coloquemos muralhas entre nós e os nossos desejos.  
O que Ele quer é que O procuremos nesses desejos, em todas as coisas, sobretudo nas que acontecem, que sejamos capazes de O reconhecer nas circunstâncias, mais do que procurar as circunstâncias em que Ele está. Porque Ele está em todas. Que encontrando o olhar d´Ele sobre todas as coisas as vivamos com esse olhar.

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