A força do sal
“Coisa boa é o sal; mas se perder o seu sabor com que há-de ele temperar-se? Não serve nem para a terra, nem para a estrumeira: deita-se fora. Quem tem ouvidos para ouvir,oiça! Aproximavam-se dele todos os cobradores de impostos e pecadores para o ouvirem. Mas os fariseus e os doutores da Lei murmuravam entre si, dizendo: “Este acolhe os pecadores e come com eles.” Jesus propôs-lhes então esta parábola: Parábola sobre a misericórdia – “Qual é o homem dentre vós que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as outras noventa e nove e vai à procura da que se tinha perdido, até a encontrar? Ao encontrá-la, põe-na alegremente aos ombros e, ao chegar a casa, convoca os seus amigos e vizinhos e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida.’ “Digo-vos eu: Haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se converta, do que por noventa e nove que não necessitam de conversão.”
Lc 14, 34 – 15, 7
Olhando superficialmente, parece que a leitura sobre o sal e a parábola sobre a misericórdia não têm nada a ver uma com a outra. No entanto… rezando… verifico que as pessoas que vão ao encontro de Jesus, os cobradores de impostos e pecadores, parecem-me muito mais “saborosas” e interessantes, abrindo caminhos à minha realidade, do que os fariseus e doutores da Lei que, fechados na sua pretensa perfeição, só sabem ser moralistas e acusadores, não sendo nada atraentes nem próximos de mim.
Com a parábola da misericórdia, Jesus convida-me a entrar dentro da minha realidade e a descobrir e a acolher aquela parte de mim que eu já tinha perdido, por negá-la ou por lhe ter repulsa. Jesus convida-me a acolher e a aceitar, com alegria, tudo o que sou, dedicando mais atenção ao meu lado menos bom. Jesus conhece perfeitamente esta realidade e vê-a como uma oportunidade e não como uma limitação. Se eu aceitar as minhas imperfeições, elas podem ser uma ponte que me aproxima dos outros, igualmente imperfeitos. Ao aceitar as minhas imperfeições, ao ver que sou como os outros, nem mais nem menos, descubro que sou feito da mesma massa. Ao descobrir que somos todos imperfeitos e limitidados, vejo que necessito dos outros e que ninguém se basta a si mesmo.
O facto de ser uma pessoa inacabada, em construção, abre-me a um campo imenso de novas possibilidades, a poder ser mais e melhor. Se estiver fechado na minha pretensa perfeição, isto só me levará ver os outros como pessoas inferiores, que merecem um tratamento inferior e às quais terei tendência a não tratar com a dignidade que merecem. Se já sou perfeito, já estou acabado.
O perfeito não tem sabor, nem dá sabor. Por isso não pode dar sabor à vida dos outros nem a sua vida terá sabor.
Jesus quer que eu tenha sabor, que aceite a minha realidade de talentos e imperfeições, que seja uma pessoa em construção, assim como o resto da humanidade. Só tendo a noção da minha imperfeição, amando-a e aceitando-a, é que poderei viver a minha humanidade em pleno e assim, desta forma, acolher o outro, amá-lo tal como ele é e reconhecer que preciso dele para construir aquele mundo novo por qual todos ansiamos.