“Mas ele, querendo justificar a pergunta feita, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?» Tomando a palavra, Jesus respondeu: «Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto. Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo. Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirando dois denários, deu-os ao estalajadeiro, dizendo: ‘Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar.` Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?» Respondeu: «O que usou de misericórdia para com ele.» Jesus retorquiu: «Vai e faz tu também o mesmo.»
Lc 10, 29-37
Esta leitura é muito especial para mim, no último retiro, estive todo o tempo com ela. Ainda estou a aprender, tanto, com ela e penso que continuarei. Esta parábola está sempre a acontecer na minha vida e na nossa vida. Podemos escrevê-la de muitas maneiras basta repararmos na forma como vivemos.
Inicialmente, percebia que só Jesus é, absolutamente, o Bom Samaritano. O Senhor chega, está, sempre, no nosso intimo, entra em relação com cada um individualmente, dá-nos a vida e talentos (capacidades), cada dia, sem termos consciência, muitas vezes, do que recebemos, vê as nossas feridas, enche-se de compaixão, aproxima-se, liga-as, deitando-lhes azeite e o vinho, e fá-lo, com muita ternura e lentamente, numa generosidade e liberdade infinita. Depois, coloca-nos na sua montada e paga tudo por nós. E, quando nos abrimos e somos recetivos, sendo pobres e simples, leva-nos mais longe e mais fundo naquilo que somos e vivemos. Dá-nos um olhar novo sobre nós, os outros e o mundo. Descobrimo-nos abraçados pelo Seu Amor que muda tudo.
– Hoje, não passemos adiante sem agradecer, contemplar e saborear este encontro. Não sejamos como o sacerdote e levita que continuaram o seu caminho. Recebamos calmamente, sem pressas, o que nos é oferecido.
Assim, esta noite, agradecia o tempo e espaço com Deus, a minha a vida, a casa, a comida, a vida da família (mesmo na dificuldade no acordar e despachar para sair), do sorriso da senhora que estava a varrer a rua, do bom dia do segurança, do poder disfrutar a beleza, o silêncio e tranquilidade das árvores, arbustos e flores do caminho, do céu tão azul deste dia, do metro ser rápido, da disponibilidade e simpatia dos colegas, das brincadeiras que inventam, do poder concentrar-me no trabalho, do chegar a casa, da loiça, do cansaço e do descanso… Agradecia também o poder retribuir, do desejar tê-lo feito com amor, para que seja um sinal de Deus, para que outros possam acreditar…