“Ouve a minha oração, ó Deus, não te escondas da minha súplica. Atende-me e ouve-me. Pois gemo e choro na minha angústia, por causa de tudo o que os meus inimigos bradam contra mim, e da opressão que me fazem. Lançam-me toda a sua maldade e com raiva me aborrecem. Dói-me até o coração, e terrores mortais caíram sobre mim. Tenho medo e pavor. Estou cheio de terror. Quem me dera ter asas como uma pomba. Voaria para longe e teria descanso. Fugiria para um deserto bem distante daqui e lá ficaria. Escaparia a toda esta tempestade, a este vento de fúria e ódio.”
Salmo 55

Muitos salmos são longas lamentações. O escritor queixa-se dos inimigos que o rodeiam, das doenças que o atingem ou apenas de ter sido abandonado pelo Senhor. Talvez este abandono seja uma forma de dizer que se sente vazio, sem entusiasmo, deprimido.

Não é isso que nos é vendido hoje em dia. A tristeza não faz sentido, há que dar um salto por cima, reagir, ou como se diz, empreender. Isto a mim faz-me andar quase sempre a correr para a próxima tarefa e, pior, sentir-me culpado e mal por me sentir… mal!

Se é verdade que alguns tipos de personalidade se comprazem na tristeza, outro, como eu, ficam incomodados e procuram logo a saída feliz. Nas pistas de oração aguardo com impaciência que a partilha termine no final triunfante em que Jesus sempre tem a ultima palavra.

Por isso fui ler este salmos, sentir a empatia dos que sofreram, procurar o consolo do Pai no que sinto, não no que já deveria sentir. E sinto que Deus acompanha na dor, na perda, no fracasso. Não preciso de ser o melhor possível para estar à altura Dele. Nascerão coisas novas em mim, mas tento não me obrigar a estar noutro estado mais apetecível.

Por isso não termino com o final feliz, mesmo acreditando que ele há-de vir a seu tempo.
Deus está e dá vida aqui agora.