“Mas tu eras mais interior do que o intimo de mim mesmo e mais sublime do que o mais sublime de mim mesmo”
Santo Agostinho, Confissões III,6
“Tarde te amei, beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! E eis que estavas dentro de mim e eu fora, e aí te procurava, e eu, sem beleza, precipitava-me nessas coisas belas que tu fizeste. Tu estavas comigo e eu não estava contigo. Retinham-me longe de ti aquelas coisas que não seriam, se em ti não fossem. Chamaste, e clamaste, e rompeste a minha surdez; brilhaste, cintilaste, e afastaste a minha cegueira; exalaste o teu perfume, e eu respirei e suspiro por ti; saboreei-te, e tenho fome e sede; tocaste-me, e inflamei-me no desejo da tua paz.”
Santo Agostinho, Confissões, X, 27
Este tempo de Páscoa é um dos períodos do ano mais importantes para um cristão – a fé na ressurreição de Jesus é um ponto muito importante na vida cristã (se Deus não ressuscitou Jesus somos os mais desgraçados das pessoas).
Para acreditar na ressurreição necessitamos de 2 elementos. Um é conhecer os sinais da ressurreição (factos também históricos): a transformação dos discípulos, as experiências relatadas – dos discípulos, de Paulo; o sepulcro vazio, etc; O outro elemento é o mais importante – a experiência pessoal de encontro com Deus que cada um experimenta. Este encontro, a experiência de presença e de transformação, a paz, a esperança e a confiança experimentadas são um dos pilares que nos permite ter fé na ressurreição. As coisas mais importantes na vida normalmente exigem um acto de fé. O amor não o vemos, não o medimos mas sabemos que existe porque temos sinais. Não podemos verificar a 100% o amor do outro por isso exige-se fé e confiança. A experiência de Deus é assim, exige fé, não o vemos com os olhos, mas experimentamos a sua presença em nós, no outro, nos discípulos. Não o vemos exteriormente mas interiormente com os olhos da fé. A experiência de Deus é o Amor. São João escreve – “Quem ama conhece a Deus, porque Deus é Amor” 1 Jo 4, 7-10
Uma das reflexões que gostava de suscitar era acerca da experiência pessoal que cada um tem de Deus. Que imagem temos de Deus? Que peso tem na nossa vida?
A mim pessoalmente a experiência que transforma a minha vida é a de um Deus Pai, Amor e totalmente misericordioso com capacidade infinita de perdão. Em Lc 6, 36 Jesus diz mesmo isso – “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso”.
Eu tinha uma imagem de um Deus distante, no alto, muito sisudo e exigente, muito preocupado com o cumprimento de leis. Com o caminho de fé descobri este Deus Pai de Jesus que no preciso momento em que estou a pecar está a amar-me e a procurar a minha salvação. De facto um Pai ou uma Mãe bons são aqueles que compreendem que se estamos a proceder errado é porque não sabemos amar [somos doentes, como diz a Ventura (missionária FMVD) – porque não sabemos amar], ou porque somos tontos ou porque não conseguimos de outro modo. Nesses momentos o Amor é o que salva – pode ser um amor exigente, depende da pessoa, do momento ou da situação, mas só amando e perdoando se salva.
Acho que neste tema Maria e José também nos podem ensinar muito porque foram eles os modelos que ajudaram Jesus a fazer a experiência de Deus misericordioso – Pai e Mãe.