“Talvez precisemos voltar a essa arte tão humana que é a lentidão. Os nossos estilos de vida parecem irremediavelmente contaminados por uma pressão que não dominamos; não há tempo a perder; queremos alcançar as metas o mais rapidamente que formos capazes; os processos desgastam-nos, as perguntas atrasam-nos, os sentimentos são um puro desperdício: dizem-nos que temos de valorizar resultados, apenas resultados. À conta disso, os ritmos de actividade tornam-se impiedosamente inaturais. Cada projecto que nos propõem é sempre mais absorvente e tem a ambição de sobrepor-se a tudo. Os horários avançam impondo um recuo da esfera privada. E mesmo estando aí é necessário permanecer contactável e disponível a qualquer momento. Passamos a viver num open space sem paredes nem margens, sem dias diferentes dos outros, sem rituais reconfiguradores, num contínuo obsidiante, controlado ao minuto. Damos por nós ofegantes, fazendo por fazer, atropelados por agendas e jornadas sucessivas em que nos fazem sentir que já amanhecemos atrasados. Deveríamos, contudo, reflectir sobre o que perdemos, sobre o que vai ficando para trás, submerso ou em surdina, sobre o que deixamos de saber quando permitimos que a aceleração nos condicione deste modo… A pressa condena-nos ao esquecimento. Passamos pelas coisas sem as habitar, falamos com os outros sem os ouvir, juntamos informação que nunca chegamos a aprofundar. Tudo transita num galope ruidoso, veemente e efémero. Na verdade, a velocidade com que vivemos impede-nos de viver. Uma alternativa será resgatar a nossa relação com o tempo. Por tentativas, por pequenos passos. Ora isso não acontece sem um abrandamento interno.”
José Tolentino Mendonça ,In Expresso, 25.5.2013, 28.05.13
Volto a este texto, porque estamos num tempo para muitos de nós de recomeço: organizamo-nos por anos lectivos e recomeçamos agora mais um ano, pelo que é um tempo de arranque, de descoberta do que pretendemos fazer agora que tudo – e com isso digo todas as correrias (exteriores e interiores) – recomeça…
Tenho tentado rezar e ver com o Senhor ao que me quero dedicar este ano: porque cheguei a Julho arrasada com as tarefas, com a sensação que por mais que queira construir um mundo, uma família, uma comunidade melhores, ainda tenho e encontro tantas falhas, ainda sou muitas vezes arrastada para as situações e deixo-me levar pelas circunstâncias… é tão fácil perder o rumo nos dias de hoje!
É verdade que sinto um grande apelo da parte do Senhor em parar de correr: parar para rezar, parar para ouvir, parar … e isto de parar às vezes mexe comigo: porque se é verdade que eu quero parar, também é verdade que parar, abrandar o ritmo me assusta imenso, porque tenho a certeza que, ao parar, vou sair da minha zona de conforto, vou ter de enfrentar o que já perdi, o que deixei para trás, o Senhor me anda a dizer há algum tempo e que eu tantas vezes finjo que não oiço, finjo que não percebo, respondo-lhe “desculpa, estou com pressa…”.
Por isso, pergunto-te Senhor: como posso viver melhor este ano?
Que abrandamento é este a que me sinto interpelada?
Que quero construir neste tempo novo, de recomeço?
Como posso participar neste desafio, nesta missão, que Tu lançaste à nossa comunidade este ano?