Parábola sobre a oração
“Disse-lhes ainda: «Se algum de vós tiver um amigo e for ter com ele a meio da noite e lhe disser: ‘Amigo, empresta-me três pães, pois um amigo meu chegou agora de viagem e não tenho nada para lhe oferecer’, e se ele lhe responder lá de dentro: ‘Não me incomodes, a porta está fechada, eu e os meus filhos estamos deitados; não posso levantar-me para tos dar’. Eu vos digo: embora não se levante para lhos dar por ser seu amigo, ao menos, levantar-se-á, devido à impertinência dele, e dar-lhe-á tudo quanto precisar.»
Lc. 11, 5-13
Confiança na oração
(Mt 7,7-11; Mc 11,22-24; Jo 14,13-14; 15,7; 16,23-24)
«Digo-vos, pois: Pedi e ser-vos-á dado; procurai e achareis; batei e abrir-se-vos-á; porque todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra, e ao que bate, abrir-se-á. Qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? Ou, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Pois se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que lho pedem!»
Nesta leitura, Jesus estava a ensinar os discípulos a orarem, tinha acabado de lhes ensinar o Pai Nosso, e uma das coisas que mais me choca é que quando reparei na minha própria reacção é perante um Jesus que é tão prático e diz que temos de ser impertinentes (leia-se “chatinhos/melgas”) na oração!
Depois, quando me distancio, vejo ainda o meu preconceito de que pedir algo a Deus é algo que eu considero beato, como se estivesse a pedir para ganhar o totoloto ou por algum gesto mágico, em que obviamente não acredito…
Depois, quando faço a experiência de partilhar com Deus e Jesus os medos que me vão no fundo de coração, as ansiedades, o que gostava de ser como pessoa, acabo sempre por viver peço a Deus que me dê o dom do Espirito Santo para ter força. Nalgumas alturas para vencer os cansaços, a falta de energias, os meus “direitos” a descansar. Também peço profundamente mais Espirito Santo para ter luz no caminho que estou a fazer, para me manter aberto ao que será que Deus quer de mim, dos meus talentos e para o quê e a quem servirão, sabendo, e pedindo perdão, por me custar tantas vezes abrir a essa possibilidade.
E enquanto peço para ser melhor marido e melhor pai, para ter um coração mais puro e mais dedicado, para amar mais e melhor, apercebo-me que estou numa cumplicidade que possivelmente não tenho com mais ninguém. Que estou num nível de intimidade enorme e que o Amor de Deus está presente e me vai dando paz de fundo, força e um “jugo”, de facto, muito mais leve, porque dá uma Paz que “dá chão”.
Peço para me dar também o dom da intuição para ler as coisas que me vão acontecendo no dia-a-dia, para saber agradecer profundamente por elas e para também para saber ler sinais porque há alturas em que quando “damos um passo na direcção de Deus, Deus dá dois passos na nossa direcção” (adaptação de um ditado muçulmano). Peço muito para ser mais corajoso e forte.
E quando leio que Deus quer ter esta relação de que Eu procure n’Ele a minha felicidade (Salmo 37), experimento que é uma relação muito profunda e de construção alegre e pacificadora, em mim e no que faço. E isso faz-me muito seguro e feliz. Porque este é o que chamamos de fazer o caminho com Deus que nos quer moldare transformar com o seu Amor.
Depois, pergunto-me:
Porque não desabafo logo a Deus quando algo me inquieta?
Porque não peço e procuro respostas n’Ele diariamente/constantemente?
É que, como li num livro sobre a educação, para amar também é preciso disciplina. Hoje, então, o desafio é também de pedir disciplina para que eu dê mais fruto.
E talvez porque hoje tinha de preparar as pistas de oração recebi este texto de um Santo do Sec IX, mesmo a calhar:
“O Reino dos céus está dentro de ti (Lc 17,21), se assim o quiseres, e todos os bens eternos estão nas tuas mãos. Apressa-te, portanto, a ver, a sentir e obter em ti todos esses bens que te estão reservados. […] Clama a Deus”