A nossa vida é muito marcada pelo tempo que vai passando, e este mistério da temporalidade faz-nos pensar no nosso eu, onde estamos e onde já não estamos, o que vamos ser e o que ainda não somos.
Penso que, para além do corpo, essa dimensão do tempo é o que distingue o Homem do Senhor.
O Senhor está antes e depois do tempo – vou chamar-lhe eternidade – mas pernoita no nosso eu, sem que percamos a identidade de cada um, e torna-Se Aquele que está e permanece.
Como diz a Moisés no terceiro capitulo do Êxodo. As palavras que Moisés dirige ao Senhor – “Estou aqui” – implicam uma condição de tempo e de lugar, porque o tempo só se manifesta através do físico.
Neste caso, a resposta de Moisés foi uma resposta que só podia ser dada num determinado lugar e numa cena muito concreta: no Egipto e, segundo a tradição, por volta do ano 1440 AC. Mas quando Moisés fez a pergunta ao Senhor, a Sua resposta foi aquela que pode ser dada a qualquer homem histórico: “Eu sou Aquele que sou”, um estado permanente de ser.
Temos muita dificuldade em viver o agora, mas é no agora que Deus Se manifesta; é no agora que perdemos o medo do futuro e a culpa do passado e redescobrimos este “Eu estou contigo para que tu sejas mais tu.” Neste sentido, para nós só fica espaço para a contemplação e o desfrutar do agora.