“Não julgueis, para não serdes julgados, pois conforme o juízo com que julgardes, assim sereis julgados; e com a medida com que medirdes, assim sereis medidos. Porque reparas no argueiro que esta na vista do teu irmão, e não vês a trave que esta na tua vista? Como ousas dizer ao teu irmão: “Deixa-me tirar o argueiro da tua vista” tendo tu uma trave na tua? Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e então verás melhor para tirar o argueiro do teu irmão.”
Mt 7;1-5
“Um dos enormes equívocos do religioso é a idealização da perfeição que leva as pessoas a viverem numa câmara de cultura da culpa por não conseguirem ser como aquele santo ou aquela santa. Cada um tem de conseguir o bem que lhe é possível.”
Pe. José Tolentino Mendonça
Sou em geral demasiado exigente comigo e com os outros. O que se traduz numa enorme incapacidade para apreciar e desfrutar o bom que ha em cada um de nos. Acredito no entanto que ao longo da vida e com a graça de Deus todos podemos crescer na capacidade de amar o próximo e a nos mesmos.
Na minha curta vida relembro pelo menos dois momentos marcantes em que considerei optar por caminhos de vida menos clássicos, mais tortuosos e que poderiam conduzir a dificuldades na vida em família devido a distancia. Muitas pessoas foram rápidas em emitir juízos sobre as minhas opções e foram bastantes claras quanto aos erros que eu me preparava para fazer. Tenho a certeza que o fizeram na melhor das intenções. Ouve outras (muito poucas) que se sentaram comigo, perguntaram as razoes que me levavam a considerar determinadas opções e apesar de expressarem preocupação, me fizeram sentir que iriam estar ao meu lado, sem julgamentos, independentemente da minha decisão. Em ambas as situações a vida deu muitas voltas (ou Deus foi maior que a minha teimosia) e acabaram por aparecer outras alternativas mais felizes. No entanto, e olhando para trás, o que me salvou foram as pessoas que me acolheram num momento de escuridão. Com quem nao me senti julgada. Com quem me senti amada no meu todo. Foram estas pessoas que me trouxeram Jesus quando mais dele precisava.
Na grande maioria das minhas relações estou no primeiro grupo de pessoas que descrevi no paragrafo anterior. Rápida a julgar e a emitir “pareceres” sobre as opções dos outros. Devia tirar do meu vocabulário certos adjectivos que utilizo para pessoas: preguiçoso, vaidoso, pouco inteligente, teimoso, mal-formado, ma pessoa… devia apenas permitir-me utilizar estes adjectivos, se necessário, para actos e distingui-los das pessoas. Porque cada pessoa, a começar por mim própria, e muito maior do que qualquer um dos seus actos mesmo que repetitivo, e tem um enorme potencial para fazer o bem. Ao não acreditarmos numa pessoa estamos a minar este potencial e a ser um obstáculo a graça de Deus. Sempre achei que perante escolhas erradas (na minha perspectiva, leia-se, que também tem muitas limitações), o meu papel como crista era dizê-lo frontalmente a pessoa em questão. O que tenho experimentado na minha vida ensinou-me o contrario. E mais duro calar, perder tempo a ouvir o outro e a acolhe-lo. Mas e por esta via que o Amor de Deus pode passar e Esse sim, salvar o outro (e a mim). Eu sou apenas um instrumento. Se deixar Deus atuar.