“Chegaram a uma propriedade chamada Getsémani, e Jesus disse aos discípulos: «Ficai aqui enquanto vou orar». Tomando Consigo Pedro, Tiago e João, começou a sentir pavor e a angustiar-Se. E disse-lhes: «A Minha alma está numa tristeza de morte; ficai aqui e vigiai». Adiantando-Se um pouco, caiu por terra e orou para que, se fosse possível, passasse d’Ele aquela hora. E disse: «Abba, Pai, tudo te é possível, afasta de Mim este cálice! Contudo, não se faça o que Eu quero, mas o que Tu queres». Depois, foi ter com os discípulos, encontrou-os a dormir e disse a Pedro: «Dormes Simão? Não pudeste vigiar nem uma hora? Vigiai e orai para não entrardes em tentação; o espírito está cheio de ardor, mas a carne é fraca».”
Marcos 14, 32-38
Escolhi esta leitura para a oração de hoje porque queria centrar-me no essencial: cuidar da minha relação com Deus. Sinto que são muitas as distrações e as tentações que me afastam da oração, mas sei que Deus não desiste de Se quer relacionar comigo. Esta leitura convida-me a ir ao Encontro de Deus e a pôr a minha vida como ela está na oração. Muitas vezes afasto-me da oração porque estou a viver um turbilhão de emoções (sinto-me doente, cansado, irritado, ansioso… ) e penso que não estou com cabeça para a oração ou que não vou conseguir rezar nada de jeito. Mas porque é que penso que tenho de estar no meu melhor (ou no meu pior) para me encontrar com Deus?
Tenho aqui à minha frente o exemplo de Jesus que entrega tudo em oração, tal como está: com pavor, com angústia, com dúvidas, com tristezas. Deus quer receber-nos assim: com tudo o que trazemos e somos. Tal como o fez com Jesus neste momento, Deus convida-nos a descobrir o poder transformador da oração e de como isso pode mudar a nossa vida: serenando as nossas angústias, libertando-nos nos nossos pavores e abraçando as nossas tristezas.
Desta leitura, retenho também em particular o verbo vigiar. Naturalmente que está aqui presente no sentido de fazer vigília, como um momento que dedicamos à oração. Mas para mim também encerra um convite para uma postura em concreto: vigiar no sentido de observar atentamente. Tal como um sentinela, sinto que Deus me convida a pacificar o meu espírito para poder ver com mais clareza. Com clareza e com atenção, pois a oração deve impelir-me para a acção; a partir de sinais subtis poder transformar a minha realidade.
Por último, marcou-me também um aviso e um desafio de Jesus. Jesus avisa-nos no final que a nossa carne é fraca, ou seja, que na nossa vida vamos enfrentar muitas tentações e momentos de fraqueza, que nos podem desviar do que Jesus nos chama a viver. Mas também diz que a solução é orar e vigiar. Porque é essa oração e essa postura que são a gasolina certa para o nosso carro seguir para bom caminho. Por experiência própria, já senti que por melhor que fossem as minhas intenções e o meu esforço, sem esta gasolina (orar e vigiar) foi uma questão de tempo até me perder.
Por isso mesmo, tal como Ele faz logo no início da leitura, Jesus desafia-nos a ir à procura do meu espaço e do meu tempo para rezar. Ir ao encontro de Deus no meu quarto (Mateus 6, 6), ou seja no meu mundo interior, no meu quotidiano, na minha vida.