A nossa vida é uma oportunidade curta para dizer “sim” ao Amor de Deus. A nossa morte é um autêntico regresso a casa para acolher esse Amor. Será que desejamos voltar a casa? Parece que a maior parte dos nossos esforços têm por objectivo atrasar o mais possível esse regresso.
Escrevendo aos cristão de Filipos, o apóstolo S. Paulo mostra uma atitude radicalmente diferente. Diz ele: “Desejaria partir para estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor; mas continuar vivo é mais necessário por vossa causa” (Fl 1, 23-24). O desejo mais profundo de S. Paulo é estar completamente unido a Deus por meio de Cristo e esse desejo fá-lo olhar para a morte como um “ganho”. Contudo, o seu outro desejo é continuar vivo no corpo para acabar a sua missão. Isso proporcionar-lhe-á ocasião para um trabalho frutuoso.
Assim, somos desafiados mais uma vez a olhar para a nossa vida a partir do alto. Se, com efeito, Jesus veio oferecer-nos uma comunhão plena com Deus, fazendo-nos partilhar da Sua morte e ressurreição, que mais poderemos desejar senão deixar os nossos corpos mortais para alcançar a meta finalda nossa existência? A única razão para continuar neste “vale de lágrimas” é poder continuar a missão de Jesus que nos mandou ao mundo, como o Pai O mandou a Ele. Vista do alto, a vida é uma missão curta, por vezes penosa, cheia de ocasiões para fazer trabalho frutuoso pelo Reino de Deus, e a morte é a porta aberta que conduz à sala onde o próprio Rei nos irá servir.
Parece tudo tão contrário à visão comum da vida! Mas é a via de Jesus e a que nós devemos seguir. E não há nada de doentio nisso. Ao contrário, é uma visão alegre da vida e da morte. Enquanto estivermos no corpo, tratemos bem dele de maneira a levar a alegria e a paz do Reino de Deus àqueles que encontrarmos na nossa jornada. Mas, quando chegar o tempo da nossa morte, alegremo-nos também por podermos voltar a casa para estarmos com Aquele que nos trata por “amados”.
Henri Nouwen – “Aqui e Agora – Vida no Espírito”