E tu? Queres colaborar? O teu papel é insubstituível…

Há dias participei no último adeus ao Padre João Resina. É impressionante olhar para 80 anos de vida de fidelidade, serviço, disponibilidade, procura da verdade e opção pelos mais pobres! Que grande dom para a Igreja, para o Mundo e para cada um de nós que privámos com ele, por vezes em momentos-chave da vida (morte, doença, pecado, baptismo, eucaristia, casamento, etc).
As leituras escolhidas para a missa do seu funeral tocaram-me de vários modos: Por um lado, mostram como Jesus nos propõe que vivamos; por outro lado consigo perceber que muito da vida do Padre João se pautou por este estilo ensinado por Jesus; finalmente sinto-me também chamada e animada a viver assim.
 
 
Vamos então às leituras:
 
Na primeira leitura, do Profeta Isaías, é dito:
“O Senhor do Universo há-de preparar para todos os povos um banquete de manjares suculentos. Ele destruirá a morte para sempre. Enxugará as lágrimas de todas as faces e fará desaparecer da terra inteira o opróbio que pesa sobre o seu povo.”
Que bom, que alívio, saber que o mal, o sofrimento e a morte não têm a última palavra! Que a última palavra, para todos os homens, é a alegria, a paz, o amor. Mesmo aquelas pessoas para quem a vida é apenas sofrimento serão consoladas, ainda que seja só depois da morte.
De qualquer modo, não podemos esperar pela morte para que as lágrimas sejam enxugadas! Já neste mundo, nesta vida (que é a única que, por enquanto, conhecemos) é possível (e urgente!) preparar banquetes, destruir  mortes, enxugar as lágrimas e fazer desaparecer a injustiça que pesa sobre o povo. E essa tarefa depende de nós! Nenhum de nós está de fora! Há que meter mãos à obra. Já.
Jesus considera de tal maneira importante combater o sofrimento e a injustiça nesta terra que diz que a nossa vida será avaliada não pela nossa fé, pela nossa oração, pelas vezes em que participámos nos sacramentos, mas pelos gestos concretos de amor que tivémos.
 
Como está escrito no trecho do Evangelho de S. Mateus escolhido para esta missa: “Vinde benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo. Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes.”
Quando li esta leitura recordei várias pessoas a quem, ao longo minha vida, tenho acompanhado, apoiado e de alguma forma  ajudado a combater o seu sofrimento. E fiquei contente! Que bom poder colaborar com o próprio Deus!
Por outro lado, sei que houve muitas situações (e continua a haver) em que poderia ter sido amparo, apoio, companhia e não fui, por falta de atenção ou de disponibilidade ou simplesmente por preguiça… Como dói poder enxugar lágrimas e não o fazer… Como ficamos todos mais pobres… 
 
É neste ponto que a 2ª leitura da celebração, da Carta de S. Paulo aos Filipenses, nos pode ajudar:
“Tende entre vós os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus: Ele esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.”
É disto que preciso: esvaziar-me de mim mesma, de tudo aquilo que é egocentrismo, preocupações fúteis, ressentimento,  orgulho, vaidade, inveja, etc, etc, para que haja espaço para a compaixão e disponibilidade para a acção a que essa compaixão obriga. Mas sei, por experiência, que não consigo esvaziar-me a pulso, à custa de força de vontade… É muito mais eficaz deixar-me esvaziar. Pedir ao espírito que me esvazie do que é mau ou supérfluo e que torne o meu coração num coração de carne, capaz de se compadecer. Sei que, sempre que me ponho a jeito, Ele faz isso.
Que bom será então, mais esvaziada, mais disponível, contribuir para enxugar as lágrimas de todas as faces. Já.
 
E tu? Queres colaborar? O teu papel é insubstituível…

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