“Eis que estou convosco todos os dias, até ao fim dos tempos.”
Mt 28,20
Aproveitar o momento implica abertura. Se estamos a ir para o trabalho e a pensar que bom seria estar a caminho da praia não estamos a viver o presente. E a bela paisagem do comboio passa-nos ao lado.
Há uma canção que explica bem isto: É aquela cantiga: “porque eu só estou bem aonde não estou, porque eu só quero ir aonde não vou” (António Variações).
Deus está no trabalho tal como na praia e a alegria que podemos ter é a mesma – a felicidade não é ter o que gostamos – é ter aprendido a amar o que temos, as surpresas constantes que a vida nos traz, porque Deus está aí. Viver as surpresas em cada presente, em cada instante, sem estar refém de um futuro que desejamos, é uma alegria enorme. Não é seca ver um jogo de futebol do qual já conhecemos o resultado? Não é a mesma coisa.
Viver feliz é referenciar tudo a Deus. Usemos a cabeça. As ligações existem, nós é que não vemos. Puxemos pela cabeça para depois sentir com o coração. É como no jogo do labirinto – o caminho de ligação entre cada situação e Deus existe.
Muitas das nossas dificuldades resultam de não conhecer suficientemente a Deus. Se conhecessemos mais, não hesitaríamos em viver mais coisas com Ele. Certamente ainda deixamos muita coisa de fora da nossa relação com Deus, não o deixamos passar por aí. A dimensão do amor de Deus, a sua escala – está numa música: “Nothing compares, nothing compares, to you” – da Sinnead O’ Connor. Saber o quão grande é este amor ajuda-nos a perder o medo e confiar mais, porque experimentamos que Deus não quer tirar-nos as coisas, quer é vivê-las connosco e dar-lhes um sentido maior.
E quando os outros estão noutra onda?
Isto é mais que certo. Sem stress. Relaxemos. A nossa alegria não depende, não pode depender, da adesão dos outros, a nossa auto-estima tem de estar em Deus e não aí. Se realmente já descobrimos o verdadeiro amor de Deus por nós, a nossa felicidade não está na adesão dos outros, não estamos nada desesperados porque se convertam. Se isso ainda não estiver resolvido temos de fazer esse caminho. E é importante que os outros também vejam isso. Que não precisamos que concordem connosco. Nós também demorámos a entender. Os outros precisam, como nós precisámos, de entender que a nossa entrega persiste para além da novidade inicial, para além da sua adesão. Também com Jesus foi assim. Só assim poderão entender que é uma questão de amor e não de Marketing.
Deus está em toda a parte. Palavra de Deus que vi nas matrículas dos carros:
‘DÁ’
‘SÊ’
Perguntemos pois ao Senhor:
“Por onde Senhor, posso aprofundar a minha entrega?”
Se um treinador nos chama para a sua equipa depois não nos abandona. Dá indicações para dentro do campo e convoca-nos para os treinos (encontros com a nossa comunidade).
Com Deus é igual. Se Deus nos chama, ele vai dar-nos os meios, senão seria um absurdo. Se não escutamos a sua voz é porque não damos tempo, disponibilidade ou às vezes atenção para o ouvir. Não duvidemos. Deus fala.
No outro dia ao procurar lugar para o carro entendi uma coisa:
Economia é escassez, Deus é abundância – tens sempre um lugar – mas é preciso ver ao longe e arriscar. Quem vê ao perto, procura o mesmo que os outros e vai atrás deles, só há um lugar para muitos (1 lugar de estacionamento, 1 lugar de chefe, 1 prémio de euromilhōes, 1 promoção) Quem vê ao longe, quando lhe parece haver um lugar num sítio diferente, não tem a certeza, mas pode arriscar, sabendo que se não houver lugar lá vai dar uma grande volta. Este encontra sempre lugar, porque arriscou sair da rua mais concorrida. Experimentem ler “O caminho menos percorrido”.
Viver feliz é saber e viver debaixo desta filosofia: “o real é o ideal”. Quanto estacionas o carro, ou em qualquer coisa que te aconteça, é possível vivê-la com Deus, e ser feliz.
O senhor desafia-nos a passar de um sentido humano de justiça, de igualdade, a uma lógica mais profunda, embora devamos não perder a primeira de vista. Isto percebe-se bem lá em casa:
A ideia com a louça é “cada um lava o seu”. Isto é o máximo que conseguimos arrancar aos miúdos. Se um deles tem de lavar a louça dos outros começam as queixas. Cada um lava o seu parece muito justo, mas então e quem lava o da pequena de 3 anos?
Os filhos pequenos, dependentes, são um dos catalizadores de um novo e mais profundo sentido para a vida, que vai para além da justiça até à generosidade.
A mera repartição justa/equitativa de esforços é necessária mas não é suficiente. Obrigado senhor porque nos convidas a um amor que está para além da lógica contabilística (sobre isto temos a leitura dos trabalhadores da vinha).
A compensação é ver a vida com outro olhar, é a graça de poder contemplar todas as coisas, e também os filhos que crescem:
Ao ver o meu filho mais velho hoje a jogar ténis comovi-me e chorei. Como é possível que tenha saido de nós um ser com esta beleza, que desenvolve esta velocidade, força e precisão? É impossível. Eu nunca conseguiria fazer uma coisa assim. A mão de Deus tem de estar por detrás disto. Obrigado Senhor, porque também nos nossos filhos ou outras pessoas que amamos te vemos a ti.