Nesta Sexta-feira Santa, Senhor, diante da Tua entrega, fico a pensar no poema da Sophia de Mello Breyner Andresen e com essas palavras gostaria de começar a minha oração de hoje: «Senhor, como estás longe e oculto e presente! Oiço apenas o ressoar do teu silêncio que avança para mim e a minha vida apenas toca a franja límpida da tua ausência. Fito em meu redor a solenidade das coisas como quem tenta decifrar uma escrita difícil. Mas és Tu quem me lês e me conheces. Faz que nada do meu ser se esconda. Chama à tua claridade a totalidade do meu ser para que o meu pensamento se torne transparente e possa escutar a palavra que desde sempre me dizes.»
E essa Tua Palavra é hoje a Epístola aos Hebreus 4, 14-16; 5, 7-9
Irmãos: Tendo nós um sumo sacerdote que penetrou os Céus, Jesus, Filho de Deus, permaneçamos firmes na profissão da nossa fé. Na verdade, nós não temos um sumo sacerdote incapaz de Se compadecer das nossas fraquezas. Pelo contrário, Ele mesmo foi provado em tudo, à nossa semelhança, excepto no pecado. Vamos, portanto, cheios de confiança, ao trono da graça, a fim de alcançarmos misericórdia e obtermos a graça de um auxílio oportuno. Nos dias da sua vida mortal, Ele dirigiu preces e súplicas, com grandes clamores e lágrimas, Àquele que O podia livrar da morte, e foi atendido por causa da sua piedade. Apesar de ser Filho, aprendeu a obediência no sofrimento. E, tendo atingido a sua plenitude, tornou-Se, para todos os que Lhe obedecem, causa de salvação eterna.
Querido Jesus, realmente nada do que há no meu ser fica escondido para Ti. Nada Te é desconhecido de tudo o que habita os nossos corações. Senhor é preciso deixarmo-nos alcançar pelo Teu olhar docíssimo e receber a partir da Tua cruz a carícia confortadora do Teu sorriso. Nada do que nós temos vivido ou viveremos Te é desconhecido. Dizia Etty Hillesum na sua oração, depois de voltar do campo de concentração Nazi onde trabalhou: “(…) aceito tudo das tuas mãos, me Deus, seja o que for. Sei que é sempre bom. Sei por experiência que uma pessoa, ao carregar com o peso das coisas, as pode transformar em coisas boas”. Por acaso, são estas palavras o resumo da Tua vida, Jesus, expressa nas outras leituras do dia de hoje (Is 53 e Jo 18; 19). Uma pessoa ao carregar com o peso das coisas, pode transformá-las… E Tu transformas a nossas vidas, as nossas dificuldades. Com a tua vida e com a tua entrega, aceitas todos os nossos desânimos, raivas, ressentimentos, tristezas, dor… e converte-los em
esperança, alegria, fé.
Senhor, nesta Sexta-feira Santa, só posso agradecer-te de Todo o coração todas as dificuldades, todos momentos de cruz, que não tenho sabido viver bem… E sabes porquê? Porque agora sei que Tu tens estado aí. É bom viver no Teu mundo, apesar… das guerras, das dificuldades, da pobreza… Sim, apesar de todo esse mal que às vezes somos capazes de fazer uns aos outros, porque és Tu quem carrega com o peso das coisas e as pode transformar em coisas boas!