«Por isso vos digo: Não vos inquieteis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer ou beber, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Porventura não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestido? Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; e o vosso Pai celeste alimenta-as. Não valeis vós mais do que elas? Qual de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? Porque vos preocupais com o vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam! Pois Eu vos digo: Nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã será lançada ao fogo, como não fará muito mais por vós, homens de pouca fé? Não vos preocupeis, dizendo: ‘Que comeremos, que beberemos, ou que vestiremos?’ Os pagãos, esses sim, afadigam-se com tais coisas; porém, o vosso Pai celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso. Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo.»
Mt 6, 25-33
Nos dias que correm, a nossa sociedade vive uma profunda crise, não só económico-financeira, mas social, derivada de uma profunda crise de valores. E nós tocamos essa realidade todos os dias, nas nossas relações… e quantas vezes isso me faz sentir impotente e ao mesmo tempo amedrontada. As incertezas, o medo do futuro que aparentemente não é promissor, facilmente me paralisa no presente.
Só um olhar mais profundo sobre a realidade consegue resgatar-nos daí e fazer surgir a vida e vida em abundância. Por isso hoje ajudava-me esta leitura: com Jesus, mergulhar na Providência Divina de um Deus que é Criador e Pai, por isso conhece profundamente o mundo que criou por amor, e com amor o sustenta.
“Ninguém o pode arrancar da mão do Pai” (Jo 10,29) Por isso, “Não vos inquieteis quanto à vossa vida…” Estas palavras de Jesus não são um convite à preguiça e à irresponsabilidade, mas antes a um abandono filial, a um viver experimentando-me na mão do Pai.
Através desta Palavra intuía um convite à CONTEMPLAÇÃO. Contemplar a minha vida, a forma como Deus sempre tem providenciado, porque muito antes de mim, bem sabe do que realmente necessito… e do que estou chamada a viver. Contemplar a criação, contemplar o mundo em que vivemos, os ambientes onde nos movemos… pedir a graça de (re)descobrir aí os detalhes do amor de Deus e também a confiança e esperança que tem depositada nas nossas vidas, para poder abraçar as dos demais.
Senhor que hoje possa reconhecer e valorizar o tesouro que é, no mundo de hoje, viver nessa confiança filial, de que nada do que vivo está fora do teu alcance… e nessa confiança que possa pôr tudo da minha parte para poder ser porto de abrigo, através do qual outros possam descobrir o dom do teu Amor.