“E Jesus fez-se homem e veio habitar entre nós.”
Jo 1,14
Jesus chega com toda a generosidade e entrega, dentro da maior simplicidade.
Nasce numa gruta de Belém, na manjedoura, que somos nós mesmos, se deixarmos.
Slogan da nossa capela neste Natal:
“Tu nascerás de novo no homem que se tornar gruta de Belém.”
Duas citações me ajudaram a entrar nesta vivência:
“Se não estou atento, não vejo. Vivo do meu preconceito. Vivo das ideias adquiridas, tantas vezes falsas. E não acolho. Não pratico uma hospitalidade real. Penso que é isso que falha. Às vezes passam dias e dias e parece que nada acontece, ou que não somos visitados por nada, e isso tem a ver com o facto de não abrirmos o coração à música da alegria que nos visita.”
Pd. Tolentino Mendonça
“Só quando me deixo ajudar, quando me deixo ensinar, influenciar, assumindo a minha vulnerabilidade, beneficio e sou beneficiada. Seja o outro quem for – criança, “estranho”, aquele que menos espero que tenha alguma coisa para me dar… Só assim, em conjunto, numa atitude de reciprocidade, nos realizamos. Só assim libertamos o potencial de cada um.”
da minha filha
Para poder dar seja o que for, contribuir e partilhar, preciso entregar-me. Requer generosidade, dom de si mesmo, tempo, atenção e altruísmo.
Mas se não estou atenta a tudo o que me rodeia: ao outro, á necessidade que tem, ao que me diz até nas entrelinhas, ao que os meus sentidos me apontam, não vejo e nunca irei acolher.
Se não reparo que está triste ou até desapontado, inconformado, nunca praticarei a dita hospitalidade que ele necessita.
Uma das experiências mais marcantes da minha vida foi ser mãe e ainda hoje reparo que tudo o que fazemos pelos filhos, principalmente quando estão doentes ou tristes, nos sai tão fácil e gratuitamente que nem precisamos ponderar, por uma única razão: o amor.
Lembro-me que muito do que fui aprendendo, foi o bebé que me ensinou, dentro da minha e da sua fragilidade.
Fomo-nos ensinando e ajudando uma à outra, influenciando e beneficiando de momentos de intimidade e reciprocidade únicos.
O dar de mamar é dos momentos que recordo de maior cumplicidade: aprendi a serenar, a respeitar os ritmos, a ser paciente e sobretudo a entregar-me, sentindo a maravilha da resposta do bebé na sua saciedade, sorriso, prazer.
Foi assim que eu descobri o meu enorme potencial para ser mãe, para cuidar, proteger e me abrir ao outro, esquecendo-me de mim.
Hoje reparo que continuar a abrir o meu coração, passa por estar atenta, acolher, deixar-me visitar pelo inesperado e dar resposta. Passa por continuar a aprender com os meus filhos e com tudo e todos, porque estamos sempre a aprender.
Passa por não descurar a necessidade do outro, que às vezes pode ser espiritual, sendo esta a grande fome do mundo real. Descubro que o “tempo é ouro” e que as horas, os dias e os minutos, não devem passar em vão, porque há muito para dar e há muito para receber. A urgência é grande.
Dizia estes dias o Papa Francisco diante do escândalo de mil milhões de pessoas que ainda hoje, passam fome:
“Não podemos virar a cara para o lado e fingir que esta realidade não existe. Os alimentos que existem no mundo são suficientes para alimentar a todos. A parábola da multiplicação dos pães e dos peixes ensina exactamente isto:
Se tivermos vontade, aquilo que temos, nunca termina, pelo contrário, sobeja e nunca acaba! Acredito que a fome pode acabar no mundo.”
Todos temos potencial para dar, e dar muito, nem que seja a nossa disponibilidade, o nosso cuidado, a capacidade de proteger quem precisa…se tivermos vontade.
Vamos preparar este Natal 2013 fazendo uma paragem com momentos de oração especiais e questionando-nos diante da grandiosidade do momento:
– O que estou a precisar, o que me falta para O receber?
– O que pode faltar aos outros que estão ao meu redor?
Convido todos (agora também os mais pequeninos) a aproximarem-se do presépio muitas vezes durante estes dias, parando no silêncio (se possível com esta ou outra música de fundo) e imaginando como cada figura viveu esses momentos: Maria, José, Jesus, reis magos, estrela, anjos, pastores… como se sentiram, como agradeceram, festejaram, como pediram?
Vamos pedir nós também tudo o que mais desejamos e precisamos, e também para todos os que nos lembramos.
A vaca e o burro que receberam e aqueceram Jesus com o seu bafo, as ovelhas, a árvore, a gruta, a manjedoura e o lume também ajudaram a preparar esse ambiente único.
– E eu? Como posso ajudar?