Porque nós é que somos pela circuncisão: nós, os que prestamos culto pelo Espírito de Deus, nos gloriamos em Cristo Jesus e não confiamos na carne – ainda que eu tenha razões para, também eu, pôr a confiança precisamente nos méritos humanos. Se qualquer outro julga poder confiar nesses méritos, eu posso muito mais: circuncidado ao oitavo dia, sou da raça de Israel, da tribo de Benjamim, um hebreu descendente de hebreus; no que toca à Lei, fui fariseu; no que toca ao zelo, perseguidor da Igreja; no que toca à justiça – a que se procura na lei – irrepreensível. Mas, tudo quanto para mim era ganho, isso mesmo considerei perda por causa de Cristo. Sim, considero que tudo isso foi mesmo uma perda, por causa da maravilha que é o conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor: por causa dele, tudo perdi e considero esterco, a fim de ganhar a Cristo.
Fil 3, 3-8
Paulo apresenta aos Filipenses a sua autobiografia, como modelo de uma verdadeira conversão. É uma resposta aos seus adversários judeus, que faziam gala dos tesouros espirituais e morais contidos no judaísmo. Paulo serve-se de um argumento de enorme valor moral: ele possui plenamente esses tesouros e é capaz de avaliar o seu alcance. Todavia tudo desprezou quando descobriu que Cristo é o fundamento de toda a moral. Assim, Paulo dá-nos um magnífico exemplo de como deve ser uma verdadeira conversão: Paulo não apenas troca de um conteúdo – judaísmo – para o outro – cristianismo, mas de uma atitude fanática e intransigente por outra autenticamente liberal. De perseguidor da Igreja passou a anunciador de Cristo. Paulo era, de facto, um fariseu às direitas e a sua entrada na Igreja situou-o, não na direita eclesial, mas na verdadeira esquerda libertadora.