Olá, Jesus. Paro um instante para estar a sós contigo. Estou em casa, no meu quarto, à janela. Na rua à minha frente há obras, há imenso barulho. Três calceteiros reparam a calçada. É curioso, mas talvez seja esta a melhor composição de lugar para a oração de hoje. Nos próximos minutos, que eu também te deixe reparar o meu coração, o meu interior.
O Evangelho de hoje é João 11, 45-56:
Naquele tempo, muitos judeus que tinham vindo visitar Maria, para lhe apresentarem condolências pela morte de Lázaro, ao verem o que Jesus fizera, ressuscitando-o dos mortos, acreditaram n’Ele. Alguns deles, porém, foram ter com os fariseus e contaram-lhes o que Jesus tinha feito. Então os príncipes dos sacerdotes e os fariseus reuniram conselho e disseram: «Que havemos de fazer, uma vez que este homem realiza tantos milagres? Se O deixamos continuar assim, todos acreditarão n’Ele; e virão os romanos destruir-nos o nosso Lugar santo e toda a nação». Então Caifás, que era sumo sacerdote naquele ano, disse-lhes: «Vós não sabeis nada. Não compreendeis que é melhor para nós morrer um só homem pelo povo do que perecer a nação inteira?» Não disse isto por si próprio; mas, porque era sumo sacerdote nesse ano, profetizou que Jesus havia de morrer pela nação; e não só pela nação, mas também para congregar na unidade todos os filhos de Deus que andavam dispersos. A partir desse dia, decidiram matar Jesus. Por isso Jesus já não andava abertamente entre os judeus, mas retirou-Se para uma região próxima do deserto, para uma cidade chamada Efraim, e aí permaneceu com os discípulos. Entretanto, estava próxima a Páscoa dos judeus e muitos subiram da província a Jerusalém, para se purificarem, antes da Páscoa. Procuravam então Jesus e perguntavam uns aos outros no templo: «Que vos parece? Ele não virá à festa?»”.
Há uma pergunta inquietante neste Evangelho: “Que havemos de fazer, uma vez que este homem realiza tantos milagres?”
Que havemos de fazer perante a abundância de bem que os outros realizam?
Há várias atitudes possíveis:
1 – A mais comum talvez seja a indiferença. Há momentos na vida em que estamos tão distraídos que nem nos apercebemos do bem que outros ao nosso lado realizam. Apenas nos damos conta que as coisas aparecem feitas, mas ignoramos quem as fez, como e quando;
2 – Se somos pessoas atentas e verdadeiramente humildes, somos capazes de reparar no outro, no bem que ele faz, somos capazes de lhe agradecer e de nos alegrarmos e até mesmo de desejar aprender com ele a realizar esse bem bem feito;
3 – É possível que alguma vez nos sintamos ameaçados pela abundância de bem nos outros, sobretudo se esta denunciar ou deixar a descoberto a nossa falta de gestos de verdadeira entrega, o nosso pouco amor.
Creio que os príncipes dos sacerdotes e os fariseus se posicionaram nesta última linha. Além disso, o texto bíblico deixa antever um certo conflito entre a popularidade emergente de Jesus e os interesses dos romanos e, evidentemente, o medo que isso suscitava entre as chefias judaicas: «Se O deixamos continuar assim, todos acreditarão n’Ele; e virão os romanos destruir-nos o nosso Lugar santo e toda a nação».
Perante este dilema, Caifás vai encontrar uma solução rápida: “é melhor para nós morrer um só homem pelo povo do que perecer a nação inteira”. E a partir desse dia, decidiram matar Jesus.
Senhor, como reajo eu ao bem que os outros realizam? Com indiferença? Com alegria? Com inveja e agressividade? Como reajo?
Jesus, nesta caminhada de Quaresma em direção à Páscoa, abre os meus olhos e aquece o meu coração para ver, celebrar e agradecer tanto bem que acontece à minha volta. Que eu me possa alegrar com o bem que os outros realizem e que também eu me torne numa fonte de bem!