“Ao lermos as Escrituras, fica bem claro que a proposta do Evangelho não consiste só numa relação pessoal com Deus. E a nossa resposta de amor também não deveria ser entendida como uma mera soma de pequenos gestos pessoais a favor de alguns indivíduos necessitados, o que poderia constituir uma «caridade por receita», uma série de ações destinadas apenas a tranquilizar a própria consciência. A proposta é o Reino de Deus (cf. Lc 4,43); trata-se de amar a Deus, que reina no mundo. Na medida em que Ele conseguir reinar entre nós, a vida social será um espaço de fraternidade, de justiça, de paz, de dignidade para todos. Por isso, tanto o anúncio como a experiência cristã tendem a provocar consequências sociais. Procuremos o seu Reino: «Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo» (Mt 6,33). O projeto de Jesus é instaurar o Reino de seu Pai; por isso, pede aos seus discípulos: «Proclamai que o Reino do Céu está perto» (Mt 10,7).”
A Alegria do Evangelho, nº 180
Com o mesmo afinco que procuramos ajudar quem passa dificuldades, devíamos exigir (e ajudar a construir) um mundo onde a justiça social não fosse uma miragem. Revejo-me totalmente nestas palavras do Papa. A fé não pode ser um lugar quentinho onde descansamos as nossas consciências dando alguma coisa aos pobres e depois sermos cúmplices de um sistema que os gera (e parece que cada vez gera mais).
Não pode ser que o salário do trabalho de alguém não lhe permita ter uma vida digna.
Não pode ser que a economia esteja ao serviço de uns poucos.
Que mundo estou disposto a construir? Se for preciso ter um estilo de vida diferente para que o mundo seja mais justo, estou disponível?