«Se um filho vosso ou um boi cair num poço, qual de vós não irá logo retirá-lo em dia de sábado?»

Olá Jesus, que bom voltar à tua presença. Mais um tempo em que quero abrir o meu coração para que o possas transformar… Neste início de oração, gostava de colocar nas tuas mãos as situações que me inquietam pessoalmente, o terrorismo para o qual que não encontro explicação, os irmãos de coração que sofrem pelas decisões tomadas por governantes e ainda pelas catástrofes que destroem tanta coisa. Peço a tua esperança para todos estes acontecimentos…


Hoje, em Igreja, somos convidados a entrar no Evangelho de São Lucas (14,1- 6):
Naquele tempo, Jesus entrou, num sábado, em casa de um dos principais fariseus, para tomar uma refeição. Todos O observavam. Diante d’Ele encontrava-se um hidrópico. Jesus tomou a palavra e disse aos doutores da lei e aos fariseus: «É lícito ou não curar ao sábado?». Mas eles ficaram calados. Então Jesus tomou o homem pela mão, curou-o e mandou-o embora. Depois disse-lhes: «Se um filho vosso ou um boi cair num poço, qual de vós não irá logo retirá-lo em dia de sábado?». E eles não puderam replicar a estas palavras.


Hoje, gostava de iniciar de maneira diferente e por isso convidava a ouvir ou reler novamente a leitura e a fechar os olhos. Entrar na cena, ser a personagem que mais ajudar…e depois, ficar aí durante algum tempo.
Quando fazia este exercício, duas ideias saíam: Seguir a lei das regras ou seguir a lei do amor? E, cuidar o outro?
Jesus coloca de uma forma sábia a legalidade de curar ao Sábado, confrontando os próprios defensores da lei. O sábado era, na lei antiga, o dia sagrado por excelência, fortemente marcado pelo descanso. E como quem cala consente, Jesus continuou e curou o hidrópico. E para acabar com as dúvidas que pudessem existir, remata com a frase «Se um filho vosso ou um boi cair num poço, qual de vós não irá logo retirá-lo em dia de sábado?», deixando-os sem palavras.
Por vezes, pode parecer que as leis são só para quem desempenha a função de juízes, advogados, ou afins. De facto, todos nos debatemos com estas leis, necessárias para viver em sociedade. Só que também existem outras, aquelas que resultam da convivência informal com os outros e também connosco próprios. E quantas leis seguimos diariamente. Dou conta do que estas por vezes me condicionam ou até me limitam?
Se umas têm de existir para nos defendermos até de nós próprios (ex.: as que permitem quebrar a rotina, ser disciplinado, estar organizado) outras amarram-nos de tal forma que não nos deixam ser felizes. Por isso, pára! E, neste momento, identifica essas leis em ti! Por vezes, parece que vivemos num dualismo, entre boas e más leis… Jesus, propõe-nos outras leis, só que baseadas no amor. Partindo da realidade que vivo, são leis que estão ao meu alcance e em prol de um bem maior. Por exemplo, pôr e levantar a mesa é um tema “caro” lá por casa com os meus filhos. Só que há dias em que o cansaço e as birras dos mais pequenos, ou até o nosso, nos fazem olhar e experimentar este tema de outra forma. Como já é normal esta tarefa, relembro-os, asseguro-me que ouviram, saio de cena e espero que ponham a mesa a tempo de jantar, ou então simplesmente vou eu fazer. Pode-se questionar que tínhamos um “acordo”, que falei com eles e por isso já me teriam ouvido, que mais uma vez fui eu que pus a mesa, que também estou cansado… Só que não posso e não quero perder o meu foco, ou seja, criar, em final de dia, bom ambiente familiar e partilhar o dia, já que estamos com eles tão pouco tempo. Em média e com sorte, nos dias úteis passamos com eles talvez 4h/dia, o que nos deve fazer questionar sobre o que procuro seguir, se a lei das regras ou a lei do amor? Tomar consciência, uma e outra vez, coloca-nos num outro patamar de relação, de entendimento, de gestão de cansaço, de qualidade da partilha, de amor pelo outro, partindo daquilo que nos é dado naquele dia e não do que achamos que deveria acontecer.
De experiências como estas, facilmente chegamos ao cuidar do outro. Aliás, cuidar é um tema que me é querido há algum tempo. E recordo hoje uma frase, de Leonardo Boff, que me ajuda tanto a explicar este tema: “O que se opõe ao descuido e ao descaso é o cuidado. Cuidar é mais que um ato, é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro”. É algo que faz parte de mim, de ti, de Jesus, e por isso, Jesus só pode dizer sim ao chamamento interior para curar aquela pessoa. E assim, Jesus cuida aquela pessoa, eu, tu e todos aqueles que se deixam tocar… e fá-lo uma e outra vez.


Será que os doutores da lei e os fariseus foram capazes de compreender o sentido da lei do amor que Jesus propõe? Ou ficaram-se pelo cumprimento estrito das leis baseadas em regras, que tantas vezes colocam fardos às costas de outros? E cada um de nós, como quer hoje fazer? Hoje, que pessoas concretas vou querer cuidar?

Os comentários estão encerrados.