Naqueles dias, Moisés levantou-se muito cedo e subiu ao monte Sinai, como o Senhor lhe ordenara, levando nas mãos as tábuas de pedra. O Senhor desceu na nuvem, ficou junto de Moisés, que invocou o nome do Senhor. O Senhor passou diante de Moisés e proclamou: «O Senhor, o Senhor é um Deus clemente e compassivo, sem pressa para Se indignar e cheio de misericórdia e fidelidade». Moisés caiu de joelhos e prostrou-se em adoração. Depois disse: «Se encontrei, Senhor, aceitação a vossos olhos, digne-Se o Senhor caminhar no meio de nós. É certo que se trata de um povo de dura cerviz, mas Vós perdoareis os nossos pecados e iniquidades e fareis de nós a vossa herança».
Ex 34,4b-6.8-9
Esta passagem vem um pouco depois de Moisés exigir a Deus que Se manifeste, que mostre a Sua glória (final do capítulo 33 do Êxodo), sendo esta a resposta de Deus.
Ao ouvir recentemente esta leitura numa eucaristia, veio-me a seguinte intuição, que me tem acompanhado nestes dias: “Deus não tem pressa para Se indignar”. E eu? Tão facilmente perco a paciência com os outros e “disparo” as minhas razões… “Deus é cheio de misericórdia e fidelidade” E eu? Como ando a relacionar-me com os outros? Que capacidade tenho de me aperceber do que vivem e compreender atitudes, reacções que à primeira vista são uma agressão para mim? Em que medida sou fiel nos meus compromissos? Podem contar comigo, ou é quando calha ou só quando não me custa?
Pressenti também a intuição da parte do Senhor: “isto não é uma moral ou uma exigência ética que tens de atingir sozinho; conseguirás ir vivendo na medida em que experimentes que Eu sou «um Deus clemente e compassivo, sem pressa para Se indignar e cheio de misericórdia e fidelidade». É uma das armadilhas em que caímos, cristãos mais ou menos empenhados, especialmente se andamos nisto há muito tempo: fazer as coisas por nós próprios, até com muito boas intenções, mas sem a experiência fresca, renovada, sentida na nossa pele e na nossa vida, desta lentidão do Pai em se indignar com cada um, experimentar a Sua misericórdia e fidelidade. Andamos atarefados a resolver coisas, e não paramos para perceber que uma das coisas que Deus faz connosco é amar-nos demoradamente e animar-nos a prosseguir, especialmente quando sentimos que não somos capazes, nem melhores que os outros, ou que tropeçamos constantemente na mesma pedra. Sem reconhecer esta presença, não nos prostraremos diante de Deus, como Moisés. Porque não conseguimos reconhecer o que Ele faz por nós.
Como proposta de oração para hoje, aceitemos o convite de Deus a experimentar o Seu amor por nós, a lê-lo hoje na nossa vida. A saboreá-lo. A exigir que nos “mostre a Sua glória”. Em que é que Deus está a ser lento em indignar-se comigo? Em que é que tem sido misericordioso e compassivo? Em que tem sido fiel?
Então, depois, rever com Ele como o podemos viver do mesmo modo na nossa vida.
Boa oração!